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quarta-feira, setembro 28, 2011

aos que se tenhem sempre solertes

Olhando com ar distraido
As cem prateleiras coa mente distante
Uns olhos alheios
Alheiam-se sós da cidade’em que moram.
“Apenas eu próprio”
Palavras tam duras lazeiram-no,
Dantes prefer’outras vias:
“Falarmos d’amor e limpar-nos coa mau”
Se tal for possível nom falta vontade,
Mas toda palavra que tem com qualquer
Lhe diz sem consciência “Pra mim nom és bom suficiente”.
Um laio que foge como’umha’excrecência
Dumha’alma desumanizada
Que tem na derrota’o seu berço, seu leito,
E guarda’esperança nas lojas que topa,
A tal é que veu até’às cem prateleiras
Que tem pola frente.
Chegou o momento de dar acovilho
A’um novo pedaço de mundo futuro
Por lá entr’o queijo e’o leite de soja...
Nom vai ser possível,
O queijo preciso nom é com gordura,
Há ser baixo’em lípidos:
Esse futuro de vans esperanças,
Requer-nos mudar a figura do corpo,
Fazê-lo mais fino pra dar-lh’esbelteza,
Fazê-lo melhor pra virar competente
Na vida social da qu’agora s’afasta.
E lá vai-s’embora sem ter consumado
Um acto sagrado de sacro Consumo:
Apenas comprando
Chegamos a ser competentes
Nas nossas banais relaçons inumanas,
Um corpo de filme, sorriso perpétuo,
E todo’o que dict’o cinema
Pra sermos avondo.
E sais, coitadinho, da loja
Perene, sem férias, sem dias de folga,
“Ficou-m’esquecido lá dentro’algo próprio”,
Já fora descobres... “será qualquer cousa”
Sem dar importáncia,
Mas nunca percebes qu’à luz do Mercado
Virache’em objecto de compra ti próprio,
Comprach’um desejo pra seres
Mais guapo, viril, atraente... chatices do jeito
E quando consegues o’avanço mais mínimo
“Foi um produto,’auto-ajuda, psicólogo”
Aí fica'o preço da tua pessoa, virache distinto,
Co carro, coa roupa, coa'“imagem”
Ti próprio’és produto, também quem consome,
Consome-te logo.
No’entanto na loja, por perto do queijo,
Ficou reservado’um pedaço dum homem,
Aquilo que temos sem compra nem venda possível,
Aquilo que perdem as gentes aos poucos
Nom sendo’esses poucos que sempre se tenhem solertes:
A'espontaneidade

2 comentários:

J Cima D Vila disse...

O problema é que há que destruir umha e outra vez o que cremos para saber se devemos cre-lo. Aquel que duvida do que sabe será um tolo e um indiferente mas saberá que é o que nom crer. Acho que o capitalismo joga com essa parte da consciência humana e instaura o relativismo. De nós dependerá sabermos que o relativismo nom o questione todo, nom aquelo que nós sabemos que nom é ético pode apresentar-se-nos como tal, e ante isso nós devemos reagir e plantejar nom a inversom senom o despraçamento da esfera completa dum eixo para o outro.

Um Saúdo!

Heutor disse...

Concordo em muito disso, mano, a questom de deslocar a esfera cultural e nom apenas "dar volta simétrica" ao mundo hodierno é, ao meu entender, de enorme importáncia, mas nem nisso há acordo mínimo entre as esquerdas. Isto é terrível... também é claro que neste ponto estou em profundo desacordo coa pose, por exemplo, do feminismo que diz luitar pola supremacia feminina. Esse é o perigo de dizer "eu quero fazer o que ti, mas justamente à contra", estás a dizer que o outro nom está menos certo do que ti (neste caso, o outro é um defensor hipotético da supremacia masculina) e que no fundo é "quase o mesmo". O que toca o relativismo é muito espinhento, acho eu... é preciso em certa dose para adquirirmos perspectiva ao igual da mesma maneira que a indiferença: respeito do discurso capitalista/consumista também acho que predica entre nós o "uso irrestrito" de todo recurso intelectual (relativismo "até o limite" ilógico, materialismo até onde nom faz sentido, vontade de mudar "todo" sem valorar nada, etc...), ai é onde também temos de saber exercer a nossa capacidade para sonhar e criar um mundo novo sem inverter, mas mudando as cousas para além de onde os poderosos querem jogar a partida.
Também é provável que nom dixera nada novo e seja toda esta ramalhuda exposiçom um bocado irrelevante, se calhar apenas repetim o que dixeche por outras palavras... mas temos de acostumar-nos a falar e entender-nos através das palavras, até repetendo boa parte do que outros (ou um próprio) dizem.
Abraços fraternais!