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terça-feira, fevereiro 22, 2011

JAMBOS À PRIVATIZAÇOM DO MUNDO

Pairava'um deus no nevoeiro
Por cima dum planeta'informe
Coas cousas todas misturadas
Fazia todo'a mesma massa.
Vontade tivo de falar
Com voz altissonante'e clara
Enquanto dava'à rocha forma
Pra'além da dumha'esfera simples.
Chamou por Ódio'e por Amor
E deu-lhes nascimento'a ambos
(Assim engendra'o deus as cousas,
O Nome cria'a Existência),
E deu-lhes ordens claras a'estes:
“Fazei que se repelam esses
E'aqueles elementos s'amem,
Agide como mais gostedes
E dade vida'à Criaçom”.
Assim s'unírom certos átomos
Enquanto'os outros s'afastárom
Criando-s'água, rocha'e gases
Que dérom consistência'ao ar.
Depois co tempo veu a vida,
Agroma'aos poucos, lentamente,
Amor mais Ódio lá'intervenhem
Fazendo que se desenvolva
Nascendo'assim Evoluçom,
Que dá diversidade'àquela.
A água fria cai à terra,
Inunda'os vales mais profundos
E val-lh'à vida de morada
Um tempo'até qu'está tam cheia
Que sobem peixes parà terra
(Por ordem d'Ódio que lho manda),
Paragem que governam fentos
E bechos miúdos d'oito patas.
Passado'o tempo todo muda
E venhem novas dinastias:
Prosperam uns lagartos grandes
Até qu'un asteróid'enorme
Chamado por Amor à Terra
Dá morte (quando bate nela)
A muitos bechos no planeta,
Depois a'herdança passa'a seres
De muito pelo'e sem escamas
Dos quais alguns se fam mais listos
(Co'engenho'e mais coas ferramentas
Conseguem o que nega'o corpo)
Até crescer em grande número
E dar entrada'em pouco tempo
Ao reino'hodierno dos humanos.
Daquela'o deus ficou pasmado
Ao ver aquilo qu'iniciara,
Deitou-se na'erva que gromara
Sob pés divinos lá fincados.
Nom deu passado nem por sono
Ao vir lá'um homem a berrar:
“Levanta-te daí, mangante,
Aqui'este sítio já tem dono,
S’agora nom te vas embora
Terá de vir por ti'a polícia!”
E foi-s'embora, espantado.
A’um rio próximo chegou-s'a
Beber um grolo d'água fresca...
Também nom puido, pois chegou
Daquela um guarda pra'informar
Da propriedade qu'os seus chefes
Ganharam sobr'aquelas águas.
Zangado'o deus subiu a'um monte
Co fim de respirar ar puro,
Nem isso puido'o desgraçado:
Um gajo co'ar engarrafado
Contou-lh'entom qu'o ar de lá,
Tam limpo'e sem contaminar,
Pagavam-no'a bom preço'abaixo
Nas grandes urbes poluídas;
Propuxo-lhe fazer negócio,
“Ti pós dinheiro e'eu a'ideia”.
Botou a'andar o deus contendo
A raiva'acumulada'ali
E foi buscar a'Amor e'a Ódio
Pra ver quem foi o responsável
Do'invento'aquel' da propriedade
E'rebentar-lh'os dentes todos.

2 comentários:

AFP disse...

Impresionante "decumento"!

Anônimo disse...

O nosso irmau Heutor coma sempre magistral e inteligente! Vejo querido Heutor toques de Saramago ao começo que sabes fazer muito bem.

Os homes criarom a Deus a súa imagem e semelhança, por isso este deve ser dono do mundo, própietario ele ou o que é o mesmo: Ladrom!