Por dias parece que temos na pele
Um longo’e profundo prurido
Qu’escorre p’ràs costas e’o fundo do lombo
Naqueles momentos que querem a mam
D’alguém a pousar-se nalgures,
Desejam ouvir as palavras “tou cá”
Mas nestes instantes ninguém há por perto
O vento do Norte na frente
É toda’a companha que temos connosco.
Porém o prurido d’agora’é vergonha
Por irmos dizer o que segue,
Nom temos costume de ser tam explícitos.
Quantas palavras terám sido ditas
À musa da lírica toda
Falando d’amor e de cousas da ordem?
Sem dúvida’há gente qu’entende’o poema
Com todo’o presente, num hoje
Ou bem como’um ontem ou um amanhám:
Que fique por perto das cousas possíveis
Mas nunca carente d’esp’rança
Que cante saudades da vida que vive.
Embora nem hoje nem nunca’entendemos
Sofrendo’a pancada do vento
O modo em que pode viver-s’entre cánticos,
Como podedes viver sem ser mudas,
Cantar sem ser mortas em vida,
Amar e ter musa sem turnos xebrados.
Mas é musa lírica’apenas aquela
Qu’exige rigores à vate
Jamais a’encoraja a viver e ser livre.
Entom como queres que fale d’amor
S’o tenho comigo no peito?
Fazê-lo seria’expulsá-lo’ao desterro:
Nom podo falar d’arrecendos salgados
De baixa maré na tardinha
Se tenho’o sentido’embriagado do’aroma;
S’o fago nom tenho’os sentidos atentos
Àquilo que quero comigo,
Safoda’essa musa de mil amarguras!
Por isso’é que trago’estes versos bizarros
P’ra dar boa’amostra dos factos
De como bem podo falar d’erotismo
No justo momento’em que podo,
De como bem podo falar d’arrepios
Em peles alheias e próprias,
De como bem podo falar de palavras
Em bocas que sempre desmentem,
Contodo vou ter de pôr freio’aos meus lábios:
Nom sei s’é só conto de velhas,
Mas pode-se-m’ir toda’a força’em palavras.
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