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domingo, maio 16, 2010

Fábula Antropomorfa da Dupla Escatologia

Um home sentado no banho pensava

Nas cousas mais sérias que tinha no siso.

Dirig’ um negócio, construi edifícios,

A Legalidade consegu’evitá-la

E fai o que quere no Império dos Quartos;

Os quartos nom tenhem nem muita’importáncia,

Mas dam um enorme poder de domínio:

“Aquel ilegal que trabalha pra mim,

A minha parelha cativa na casa,

Os filhos que estam a viver no fogar...

Dependem de mim e faram-no por sempre.”

No seu pensamento sorri levemente

Entanto recorda contente consigo

O modo de tê-los assi, submetidos:

“Se quero qu’estejam ou tristes ou ledos

Será quando deixe que fluam os euros,

Pois eu administro’s recursos que temos”.

Entom o cerebro detém-se cansado,

Exausto de tanto pensar sem parage

Premend’o botom da funçom Standby

Co qu’empeça’a buscar outros temas mais simples

Que tratem de cousas nom tam trascendentes

Até que decide seguir co comum,

Cumha volta àquel divagar qu’habitua

Tam pouco’agradável à gente sensível,

A’Escatologia dos seus excrementos:

“O water recolhe matéria já’inútil

E leva-a pra longe –par’ónde? –pr’ò’Inferno.

As Portas estám nest’assento cerámico,

Logo pra lá nom exíliam malvados

(Som contos de velha qu’enganam a tantos)

Somentes aquilo que já nom tem uso.”

Sem folgos decidem os mesmos miolos

Parar dumha vez o’exercício constante

Co fim d’evitarem as dores que causa

E ficam vazios olhando pr’ò vácuo.

Na casa o home, sentado, descansa,

Aguarda'a que cheguem os seus achegados,

Atento, mirando pr’à porta do banho

Que deixa se pode de vez franqueada

Pr’òuvir s’é possível a gente na’entrada.

Parece-nos todo comum e corrente

Porém hoje sent’algo raro nas tripas:

Um ruido mui miúdo que vai aumentando,

Rilhando-lh’os untos que tem na barriga,

Tornando-o mais débil e fraco das forças;

Até a’estatura lhe vai consumindo,

Cos pés já nom chega ao piso cerámico

Grande mudança padece nas carnes!

As pernas minguando penduram n’altura,

Os braços pequenos s’agitam sem tino;

Sentem-se portas no piso d’abaixo

El grita”Maria” pedindo-lh’auxílio,

A voz mui aguda é quas’inaudível,

Parece-s’aos chios dum rato medroso.

Ninguém s’aproxima pra ver qu’acontece,

Ninguém hai presente no fim deste drama

Enquanto se sume no seu sumidouro.

O home já quase nem vive, nem pensa,

Nem muito lhe resta à sua’existência.

Acaba-s’o conto coa luz apagada,

A porta do quarto ficou franqueada

E nom saberemos co tempo que passe

Quem desta família tirou da cadeia.

2 comentários:

Anônimo disse...

Grandes poesias Heutor! Nóta-se que es todo um humanista!

O rumor do vento disse...

Dura; dura coma un penedo e fonda coma un pozo. Fantástica.

Unha aperta, bambino