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sexta-feira, maio 18, 2012

LIBRETO DE UMHA ÓPERA


INTRO

Deixemos de ser viúvas
da nossa própia carne
e comecemos de novo.
Nunca é tarde pra continuar
o que outros esboçaron bem
e cambiar o que outros
esnaquiçarom.
Também bem, pra que negalo.

Chegou a hora de mudar
á Rosalía que levamos dentro
por María a Balteira,
e renacer assim numha rebuldeira.

ADAGIO VELLO

O sentir dum país
faise evidente na súa construçom.
E o cenário está assim pintado:

uralita que nom falte,
táboas caídas,
remendos a doquier,
ladrilhos e máis tijolos sem recobrir a esgalha,
enredadeiras de humidade nas paredes,
cabres entrelaçados a mantenta,
encarnadas telhas enverdecidas,
silvas por decoración anexa,
manta ilhante á intemperie por descontado,
papeis de jornal com celo por cortinas,
janelas senhoriais de bloco tapiadas,
frouma humedecente por zócalo,
plásticos multicores por improvisados toldos,
grandes portas de postigo descoloridas,
cimento recobrindo pétreas fachadas,
árbores que nacen na lousa dum telhado.
E já no lateral da casa, e pra rematar,
cartaces –en castelán- anunciando
negocios que há já anos botaron o peche.

Tudo um esperpento racionalmente,
um “horror vacui” da natureza que depreda.


VIVACE NOVO

(Nom é belido ou nom
o poema,
é o país, este, o nosso)

Eu nom quero um cadro assim por matria.

Copiemos o verde harmónico das leiras
e das árbores polo vento bem prantadas
–obviando agora os eucaliptos-.
Mudaremos assim o sentir dum país...
...da nossa paisagem encarnada de abandono.

Transmitamos renovaçom,
movemento, aerodinámica...
...vida em definitiva: Re-matria.

Porque o país segue inda existindo,
-até quando?-
ponhamo-lo pois en alça,
reluzamo-lo!
-Quem pois?-
Tudos os ti e tudos os eu juntos.

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