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sexta-feira, agosto 26, 2011

DEPOIS

Agora’as palavras deixárom-m’inerme
Perant’o planeta’em que vivo,
Agora que som estrangeiro no mundo.
Nom ouço clarins nem timbais vitoriosos
Depois da contenda final,
Os nossos previstos entrárom em crise.
Agora’arrepios agromam ao quente
(A voz escapou-nos do peito)
Agora’os glaciares invadem desertos.
Já rincham os ferros de todas as portas
Depois do silêncio da’orquestra,
Cantares de mudos, sol-pores de cegos.
Agora’um comboio sem luzes, só’estrondo,
Oprim’o caminho de ferro
Agora sentimo-lo’a rente de nós.
Sentimos salgada’essa brêtema fria
Depois de cingir-nos no mar
Levando-nos sempre pra’acima no rio.
Agora’apodrecem algumhas ideias
Que tinham em nós agromado,
Agora’as serpentes mudamos camisa
E todos os cans ficaremos sem trela.
O MUNDO QUE VEM NOM É NOSSO,
As cousas som novas, perdêrom o nome.
O MUNDO QUE VEM NOM É NOSSO,
Os velhos pecados morrêrom no’Olvido.
O MUNDO QUE VEM NOM É NOSSO,
Ninguém sabe nada de tais bosques virgens.
O MUNDO QUE VEM... É DEPOIS.

quarta-feira, agosto 24, 2011

In dubio pro reo

E voltaram bretemas irmão
da pronta manhá rejurdida
seram fondas, estiradas, tupidas
levarão rio abaixo todos os cangalhos.

(Poderemos caminhar da cabalo delas)


Remaram cara arriva
os que a corrente seguiam,
mas não veram nada
porque só florecerán silvas.

Virá para os altos
cumes de neve branca
do fondo da ladeiras.
Nascerá gelo dos regatos.
Estalactitas!

Haverá após dos mortos
umha voz xorda e rota
que abrirá a terra agora ignota.
Um berro sim gorja
para quem esqueceu sua história.

Virá virá virá
as bágoas seram tam acedas
que não sairam.
Volverá volverá
aquela manhá.

segunda-feira, agosto 22, 2011

À VINDA DESTA NOITE

Co próxima que fica
A noite que se chega
Despertam as estrelas
Dum sono luminoso,
O sol vai-s’embora’ao chegar as sombras.
Aos paus da luz, estéreis,
Secou-lhes, imaturo,
O fruto da cimeira
Que já nom ilumina,
Guardamos memória das velhas formas
Enquanto resistem à’Escuridom.
Já’orvalha de contínuo
E logo geará
Mas nom atereçamos,
Fagamos ess’esforço,
Havendo companheiros
Jamais ficamos sós.
As mans preparadas, colhendo forças,
Já ventam trabalhos que s’ham fazer
Nuns tempos que vam resultar difíceis.
A lua’está de férias
Nom anda perto nossa
Pra ser qualquer ajuda,
Enquanto’um véu brumoso
Recobr’os nossos olhos
E dá fortuna’às bestas:
Impede-nos o medo
Quando’é tam necessário
Poder fazer sem travas.
Nom podes ficar inactivo’agora,
Dos fôlegos teus há nascer Futuro
Que mat’o Passado virado’em sombras
E traga’afinal a Manhám de volta.

sexta-feira, agosto 19, 2011

Fazer-lhe as janelas

Agora podemos fazer-lhe janelas
agora que a noite se estira
e as estalactitas escurecem
as nove da manhá, no moredo.

Mentres o labrego dorme
podesmos romper-lhe as paredes
a este palheiro recheo do grao
levado do demo.
Naquel pacto decorosso
naquela barca com o home.

Agora que o sabemos,
podemos fazer-lhe as janelas.

sexta-feira, agosto 12, 2011

Umha janela para entrarem ares novos

Ao jeito d’aranhas os bechos humanos,
Moramos na nossa’aranheira d’ideias,
Conceitos e sonhos comuns amais próprios.
Ao jeito d’aranhas tecemos por dias
Morada pra todos poder acolher-se
Do tempo’inclemente que ronda lá fora.
Alguns ainda fazem a teia dif’rente,
Nom tentam cuidar o qu’é seu simplesmente
Senom que s’importam da casa de todos.
As outras aranhas, desabituadas
Dos modos bizarros das mais disidentes
Retiram-lh’o trato e’as olham de lado
Deixando-as sozinhas nos tempos difíceis,
Até qu’afinal as rebeldes admitem
A sua loucura e’ausência de tino.
A norma daquelas que som mais sensatas
Resulta (contodo) por fim ser escrava
Da moda moderna (de certo’insensata)
De dar às moradas aspecto barroco:
“Mais fio, mais fio!” Incita’esta moda
(Consumo, lhe chamam os tolos da’Estória).
Entom a’aranheira se vê transformada
Em muro de fio, d’ideias espessas,
Que fijo virar em tam pouco’intervalo
A casa comum em prisom para todas.
“O mundo’anda tolo” protestam seguido
Mas lá nom entendem, nem querem tal crer,
Que som responsáveis do triste presídio,
No qual, inconscientes, proseguem imersas.
Agora só falta qu’aquelas percebam
Qu’aquele que fia desfia’igualmente.
SE DANTES PUIDEMOS ERGUER ESSES MUROS
AGORA PODEMOS FAZER-LHES JANELAS.

terça-feira, agosto 09, 2011

"We know you can be anything" (Uxío Novoneyra

Nós os perdedores de hoxe, 
para os que o perderon e deron todo.

Nós os derrotados
a terra queimada de carthago
os portadores da caixa
os reconstructores.
Nós unicamente os violentos

Hóstia hóstia hóstia
nos fucinhos e as costas.
Quen somos nós
Os saqueadores
Os terroristas
Os Bin Ladem
Os asasinados.

Os mortos vivos
para os nosos mortos
a-sa-si-na-dos.
Deixados e abandonados
nós sós, noite sempre nosa
cunetas enteiras de homes
son as nosas coitas.

Violencia
paro
violencia
explotados
violencia
desahuciados.

Quen somos nós
nós somos a intifada
o terrorista, o criminal,
o asasino asasinado.
Os violentos aos que eles matan.
Nós somos a categoria
na que o sistema nos ten
CA-TE-GO-RI-ZA-DOS.


sábado, agosto 06, 2011

gostaria

Gostaria dos nom-serem
Qu’ainda’a miúdo’estranho tanto
Cousas miúdas e singelas
Qu’escurecem numha’ausência
O viver do ser humano:
Um dormir coas costas quentes,
Nom sentir ess’ódio’ao próprio,
Partilhar algum segredo
Dos que moram na cabeça
De quem sonham entr’insónias,
Viajar a’algum momento
Em que ria como’um neno
Nem importam os motivos
(Pois agora nem consigo),
Nom sentir-se miserável
Mesmo por qualquer palavra,
Por qualquer absurdo feito.
Gostaria de viver
Dias novos e nom velhos,
Nom sentir apenas tédio
Quando nasça’o sol de volta
D’afastados hemisférios
Onde morem outras gentes
Que consigam, como’os nenos,
Rir por causa dum mistério...
E’esquecim há tanto tempo
O porquê do rir sem causa
Que nom sei nem como aja
Pra perder o medo néscio
A’essas línguas miseráveis
Que nom sabem brincadeiras
Que nom sejam dos segredos
(fantasias, muitas vezes)
Dos que querem ser ingénuos.