6/1/09
«Quomodo cantabimus canticum Domini/ in terra aliena?», Salmo 136 da Vulgata.
No princípio era a palavra.
E a palavra fixo-se carne,
carne branca, carne preta;
e os povos habitárom a terra.
No princípio era a palavra.
E a palavra fixo-se pedra,
verba escrava de papéis numerados;
e os povos caírom sob os estados.
No princípio era a palavra.
E a palavra fixo-se guerra,
arma branca, morte preta;
e os estados sujárom o planeta.
«Sobo-los rios que vão
por Babilónia me achei,
onde sentado chorei
as lembranças de Sião
e quanto nela passei»[1].
No princípio era a inocência.
E a inocência fixo-se ódio.
E o ódio passou, coma em Egipto,
de geraçom para geraçom:
Israel! Israel!
Para onde vam teus filhos Iavhé?!
[1] Primeira estrofe da versom do Salmo de David para Jeremias (salmo 136) feita por Luís Vaz de Camões e conhecido polo primeiro verso. Para além de jogar coa seu próprio desterro na Índia (através da epopeia do povo judeu em Mesopotámia) emprega tantos versos coma dias do ano e tantas estrofes como meses, completando assí um simbolismo vital inserido numha composiçom grave e de tom moral e filosófico, único exemplo deste calibre nas suas redondilhas de tom, polo geral, amoroso ou jocoso.