Pesquisar este blog

segunda-feira, janeiro 19, 2009

Salmo 2009

6/1/09

«Quomodo cantabimus canticum Domini/ in terra aliena?», Salmo 136 da Vulgata.

No princípio era a palavra.

E a palavra fixo-se carne,

carne branca, carne preta;

e os povos habitárom a terra.

No princípio era a palavra.

E a palavra fixo-se pedra,

verba escrava de papéis numerados;

e os povos caírom sob os estados.

No princípio era a palavra.

E a palavra fixo-se guerra,

arma branca, morte preta;

e os estados sujárom o planeta.

«Sobo-los rios que vão

por Babilónia me achei,

onde sentado chorei

as lembranças de Sião

e quanto nela passei»[1].

No princípio era a inocência.

E a inocência fixo-se ódio.

E o ódio passou, coma em Egipto,

de geraçom para geraçom:

Israel! Israel!

Para onde vam teus filhos Iavhé?!



[1] Primeira estrofe da versom do Salmo de David para Jeremias (salmo 136) feita por Luís Vaz de Camões e conhecido polo primeiro verso. Para além de jogar coa seu próprio desterro na Índia (através da epopeia do povo judeu em Mesopotámia) emprega tantos versos coma dias do ano e tantas estrofes como meses, completando assí um simbolismo vital inserido numha composiçom grave e de tom moral e filosófico, único exemplo deste calibre nas suas redondilhas de tom, polo geral, amoroso ou jocoso.

quinta-feira, janeiro 15, 2009

Concepçom do tempo presente

Eu, caminhando só pola corrente da inmensidade,
Escuitando tufos ao futuro dos nossos netos.
Eu, sonhando com ser auga e sonhando com ser vento,
Desfacendo caminhos e velhas amizades só mente
por levar a contraria a corrente que me empurra
nun sentido unidirecional que nom entendo,
Que nom quero entender nim tampouco atender
ás urgencias dos seus estómagos cheos pero aínda así..
famentos.
Eu, agardando a ostia cada día que vos vejo,
miserables coidadores do máis baixo cortelho
no que se cebam as calamidades de velhas caixas
abertas sem reparos a imensidade dos acentos.
Eu, escuitando e vendo os naufraxios em cada badalada,
em cada hora de cada día desejando liberar-me.
Eu, encerrado em min mesmo,
no bucle sem saída deste nosso tempo.

Inspirado em cárcere sem cadeias