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quarta-feira, dezembro 07, 2011

Durmindo soñei que durmia e roncaba


A palabra liberdade
tantas veces pronunciada
as veces perdeu o seu significante.
O curso da correte levouna o río

Entre os lobos ouvea
e rite de su puta madre
fala de xamón, chourizos, polivalencia
traelle aos bárbaros o pelexo dun camaleón.

Mais só ti sabes que só
sómente certa militancia ten un prezo.
A verdade e a razón
os ideais en curso de desprezo.

Tece soños mentres ves
abril tecerse en decembro.
Eles pensarán que as máquinas
son arte e progreso.

segunda-feira, dezembro 05, 2011

Welcome to Europe

A liberdade destruída
dixo Celso sona a máquina
cheira a sabor metálico
na lingua e nas gorxas.

As feras da selva
ruxen alleas ao contrato social
furan, soplan, resoplan, recantean.
Teñen un nome aterrador.


A liberdade destruída ouvea
nas gadoupas dun gato de ollos negros,
nos seus miaños adoecidos
pola propulsión dun dedo no gatillo.


A liberdade destruída crea
potentes patentes de máquinas
desde unha natureza erma
que descoñeceu sempre o pacto social
a civilización ou a moral.
Non coñece o credo
os centros comerciais
onde van as señoras de ben.


O tempo conxélase
crea
de gatos taladros
de mofetas disolventes
de leóns coitelos
de homes escravos.

quinta-feira, dezembro 01, 2011

A cela de excel

A minha vida numha cela de excel
ordenada sistematicamente coma o alinhamento celeste
o meu dia por vias de tránsito diferênciadas
com linhas amarelas: perigo, precaçom
via láctea em ourense cara compostela em mente
sem mover-se da atiu.


Vendo cae-las folhas desde o cima dos salgueiros
ao moredo taladram, cortam, remacham, cocem.
Todo dentro dumha cela de excel
na que colhe o universo infindo dos sonhos
Escariados a través do chao do cemento
onde jacem as jatas modernas.

Esta é a vida desde umha cela de excel
dumha ovelha entalada no rebanho na súa colmea.
This is the new Jesus
a nossa senhora de ferro
o velho mago panteísta reducido
enclaustrado e ailhado na cela do excel.
Todo suma, resta, multiplica, divide, contabiliza...
Este é o progresso, a ciência inteira.




poema doutro século ao tránsito cara a modernidade.

quarta-feira, outubro 26, 2011

Freedom vs Liberty

"Por quê é que escreveis em verso? Já ninguém se preocupa disso... Na nossa época de céptica madurez e independência republicana, o verso é uma forma antiquada. Preferimos a prosa, que em virtude da sua liberdade de movimento, adequa-se mais aos instintos da democracia", Eugène Deletan, deputado francês cara 1877.


Escrevo em verso para ser livre
de escravizar os meus pensamentos
e partilhá-los (de graça)
com irmãs e irmãos que se movem
livre e democraticamente
nos currunchos alternativos da rede
e que livremente defendem a democracia
de todas as culturas à sua digna existência.

Escrevo em verso:
é verdade que preocupado
pela liberdade de movimento
do capital duns poucos
sobre o lombo dos muitos.
Versos numa democracia
-censitária e oligárquica-
em que os seus próceres
cuspem e enlamam
cartas magnas;
papéis velhos de que ninguém já se preocupa.

Escrevo em verso
porque na nossa época
de idiócia, cínico
imperialismo dos direitos humanos,
e servidume dos assuntos públicos
à lei privada dos "publicanos"
tem que denunciar-se desde as últimas barricadas
onde sobrevive o gromo da democracia
(real, direta, participativa, proletária e libertária).

O verso como palavra lapidária,
o verso como atalaia,
o verso como sentido,
o verso moderno,
o verso ruturista,
o verso vital,
o verso antigo,
o verso futuro,
o verso social e político...
                                                         A hóstia em verso!

Rogamos

Eu som daqui
Deste burato fondo
onde estam a medra-las herbas
entre anacos de floreiros rotos
no chao dos cemitérios.
Este silêncio me pronuncia
e me acobarda para que cale
e outros calem fitando meu exemplo.
Esto é o que cheguei a ser
um boneco máis ao que Taylor
desde o inferno máis celeste
lhe dá forma.
Miro passa-las viúvas
dos vivos e das mortas
e deséjo-as tal Amandas
mistériossas de faziana cansa
á saída da moderna fábrica,
de excelsas coussas cheias
coloridas e pompossas.
Alí há progresso, paz, justiça.

Rogai irmaos
para que este sacrifizo nosso,
nosso soio,
seja agradável ao insaciábel todopoderosso.

quarta-feira, outubro 12, 2011

Galiza ecoa viva

"E tamén, lentamente,
con voz do noso tempo
falar da dor dos homes que nos miran,
dos latexos de chumbo nos ouvidos,
da mau atada á roda dos motores
decindo adiós ao fumo
que rube dos tellados tristemente."
Celso Emilio Ferreiro, Eu quero ir a lugo,
Longa noite de pedra, 1962



Terra a miña
que volve da historia
a entregarnos en Cima de Vila
o doce aroma  da paz.

Desde as carballeiras de Lugo
ás azuis costas de Ortegal...
Terra a miña.

Que polas súas corredoiras corren
pantasmas de nenos que un día foron
fillos de ninguén.
Nenos loiros cando quero ir e vir
a través do teu corazón ás túas mans.
E vou a Lugo poeta amigo, Xosé Terra.

Terra a miña
de vales e faros
noites de luar
onde discorren
as bágoas llos risos
os éxodos llas colleitas,
onde podo ver esta noite prateada
o doce aroma do hoxe e do maña .

Terra a miña
Onde atoparme cos meus mortos
en confomidá!


-Quería subir con este poema un comentario que un día escribiu aqui moi fermoso o garcia do outeiro sobre o monte faro que é a "voz que ecoa" mais non o dou atopado... Mais estaría ben se o atopades o escribades nos comentarios outra vez :D

quarta-feira, setembro 28, 2011

aos que se tenhem sempre solertes

Olhando com ar distraido
As cem prateleiras coa mente distante
Uns olhos alheios
Alheiam-se sós da cidade’em que moram.
“Apenas eu próprio”
Palavras tam duras lazeiram-no,
Dantes prefer’outras vias:
“Falarmos d’amor e limpar-nos coa mau”
Se tal for possível nom falta vontade,
Mas toda palavra que tem com qualquer
Lhe diz sem consciência “Pra mim nom és bom suficiente”.
Um laio que foge como’umha’excrecência
Dumha’alma desumanizada
Que tem na derrota’o seu berço, seu leito,
E guarda’esperança nas lojas que topa,
A tal é que veu até’às cem prateleiras
Que tem pola frente.
Chegou o momento de dar acovilho
A’um novo pedaço de mundo futuro
Por lá entr’o queijo e’o leite de soja...
Nom vai ser possível,
O queijo preciso nom é com gordura,
Há ser baixo’em lípidos:
Esse futuro de vans esperanças,
Requer-nos mudar a figura do corpo,
Fazê-lo mais fino pra dar-lh’esbelteza,
Fazê-lo melhor pra virar competente
Na vida social da qu’agora s’afasta.
E lá vai-s’embora sem ter consumado
Um acto sagrado de sacro Consumo:
Apenas comprando
Chegamos a ser competentes
Nas nossas banais relaçons inumanas,
Um corpo de filme, sorriso perpétuo,
E todo’o que dict’o cinema
Pra sermos avondo.
E sais, coitadinho, da loja
Perene, sem férias, sem dias de folga,
“Ficou-m’esquecido lá dentro’algo próprio”,
Já fora descobres... “será qualquer cousa”
Sem dar importáncia,
Mas nunca percebes qu’à luz do Mercado
Virache’em objecto de compra ti próprio,
Comprach’um desejo pra seres
Mais guapo, viril, atraente... chatices do jeito
E quando consegues o’avanço mais mínimo
“Foi um produto,’auto-ajuda, psicólogo”
Aí fica'o preço da tua pessoa, virache distinto,
Co carro, coa roupa, coa'“imagem”
Ti próprio’és produto, também quem consome,
Consome-te logo.
No’entanto na loja, por perto do queijo,
Ficou reservado’um pedaço dum homem,
Aquilo que temos sem compra nem venda possível,
Aquilo que perdem as gentes aos poucos
Nom sendo’esses poucos que sempre se tenhem solertes:
A'espontaneidade

domingo, setembro 25, 2011

Andeis



Como numha verbena rodeado de gente,
como numha feira sem gente,
só penetra no meu coraçom 
o mais infame dos silêncios.

Já nom há carreiros nem estradas nas que consumir-se
rematou a verbena do hipermercado.
A única música é a dun pentagrama recortado
polas tessouras austeras que atesouram
os lucros dos novos faraóns.

Verde. Passado. Cinsento. Presente. Negro. Futuro.
Dinheiro. Gente. Petos. Maos espidas. Bágoas.
Escotes. Rúa. Barulho. Morte.
deuses. muros. carros. luxo.  







quinta-feira, setembro 22, 2011

Sólo de Trompeta

Passo nivel da Florida, Monforte de Lemos
Coma sólo de trompetas numha noite de verbena
Penetro nos coraçoes desprotegidos e fago chover seus olhos.


Coma se puideramos acender-lhe  lume ao fogom já consumido.
Avantar por carreiros vadeados e saltar ao chegar a algum deles


Coma se puideramos planear sobre os teitos e as cirdeiras.
Sólos de trompeta se introduzem passenihamente mentres miras orquestras.


Tojos máis alá da parcela.

Mundis Transeuris


A través do mundo topar
umha vez lh'autra 
hervas de namorar
e lourenços de sucre 
num verao verde uva.
Abanear em primavera 
ao vento e chuva.
Vindimar 
andar tesos 
na ribeira,
Reconhecer no nosso esforço e suor
a cara dos antergos.
Pois é a história a história do sacrificio.
Fazer da incerteça pacência
trafegar no xeito mais acorde
de alinhar a ensalada mais rentável
de ser melhor e mais eficiente.
Dumha beira autra somhar
com ir e vir e voltar virar
a noite em dia e o día em noite.

sexta-feira, agosto 26, 2011

DEPOIS

Agora’as palavras deixárom-m’inerme
Perant’o planeta’em que vivo,
Agora que som estrangeiro no mundo.
Nom ouço clarins nem timbais vitoriosos
Depois da contenda final,
Os nossos previstos entrárom em crise.
Agora’arrepios agromam ao quente
(A voz escapou-nos do peito)
Agora’os glaciares invadem desertos.
Já rincham os ferros de todas as portas
Depois do silêncio da’orquestra,
Cantares de mudos, sol-pores de cegos.
Agora’um comboio sem luzes, só’estrondo,
Oprim’o caminho de ferro
Agora sentimo-lo’a rente de nós.
Sentimos salgada’essa brêtema fria
Depois de cingir-nos no mar
Levando-nos sempre pra’acima no rio.
Agora’apodrecem algumhas ideias
Que tinham em nós agromado,
Agora’as serpentes mudamos camisa
E todos os cans ficaremos sem trela.
O MUNDO QUE VEM NOM É NOSSO,
As cousas som novas, perdêrom o nome.
O MUNDO QUE VEM NOM É NOSSO,
Os velhos pecados morrêrom no’Olvido.
O MUNDO QUE VEM NOM É NOSSO,
Ninguém sabe nada de tais bosques virgens.
O MUNDO QUE VEM... É DEPOIS.

quarta-feira, agosto 24, 2011

In dubio pro reo

E voltaram bretemas irmão
da pronta manhá rejurdida
seram fondas, estiradas, tupidas
levarão rio abaixo todos os cangalhos.

(Poderemos caminhar da cabalo delas)


Remaram cara arriva
os que a corrente seguiam,
mas não veram nada
porque só florecerán silvas.

Virá para os altos
cumes de neve branca
do fondo da ladeiras.
Nascerá gelo dos regatos.
Estalactitas!

Haverá após dos mortos
umha voz xorda e rota
que abrirá a terra agora ignota.
Um berro sim gorja
para quem esqueceu sua história.

Virá virá virá
as bágoas seram tam acedas
que não sairam.
Volverá volverá
aquela manhá.

segunda-feira, agosto 22, 2011

À VINDA DESTA NOITE

Co próxima que fica
A noite que se chega
Despertam as estrelas
Dum sono luminoso,
O sol vai-s’embora’ao chegar as sombras.
Aos paus da luz, estéreis,
Secou-lhes, imaturo,
O fruto da cimeira
Que já nom ilumina,
Guardamos memória das velhas formas
Enquanto resistem à’Escuridom.
Já’orvalha de contínuo
E logo geará
Mas nom atereçamos,
Fagamos ess’esforço,
Havendo companheiros
Jamais ficamos sós.
As mans preparadas, colhendo forças,
Já ventam trabalhos que s’ham fazer
Nuns tempos que vam resultar difíceis.
A lua’está de férias
Nom anda perto nossa
Pra ser qualquer ajuda,
Enquanto’um véu brumoso
Recobr’os nossos olhos
E dá fortuna’às bestas:
Impede-nos o medo
Quando’é tam necessário
Poder fazer sem travas.
Nom podes ficar inactivo’agora,
Dos fôlegos teus há nascer Futuro
Que mat’o Passado virado’em sombras
E traga’afinal a Manhám de volta.

sexta-feira, agosto 19, 2011

Fazer-lhe as janelas

Agora podemos fazer-lhe janelas
agora que a noite se estira
e as estalactitas escurecem
as nove da manhá, no moredo.

Mentres o labrego dorme
podesmos romper-lhe as paredes
a este palheiro recheo do grao
levado do demo.
Naquel pacto decorosso
naquela barca com o home.

Agora que o sabemos,
podemos fazer-lhe as janelas.

sexta-feira, agosto 12, 2011

Umha janela para entrarem ares novos

Ao jeito d’aranhas os bechos humanos,
Moramos na nossa’aranheira d’ideias,
Conceitos e sonhos comuns amais próprios.
Ao jeito d’aranhas tecemos por dias
Morada pra todos poder acolher-se
Do tempo’inclemente que ronda lá fora.
Alguns ainda fazem a teia dif’rente,
Nom tentam cuidar o qu’é seu simplesmente
Senom que s’importam da casa de todos.
As outras aranhas, desabituadas
Dos modos bizarros das mais disidentes
Retiram-lh’o trato e’as olham de lado
Deixando-as sozinhas nos tempos difíceis,
Até qu’afinal as rebeldes admitem
A sua loucura e’ausência de tino.
A norma daquelas que som mais sensatas
Resulta (contodo) por fim ser escrava
Da moda moderna (de certo’insensata)
De dar às moradas aspecto barroco:
“Mais fio, mais fio!” Incita’esta moda
(Consumo, lhe chamam os tolos da’Estória).
Entom a’aranheira se vê transformada
Em muro de fio, d’ideias espessas,
Que fijo virar em tam pouco’intervalo
A casa comum em prisom para todas.
“O mundo’anda tolo” protestam seguido
Mas lá nom entendem, nem querem tal crer,
Que som responsáveis do triste presídio,
No qual, inconscientes, proseguem imersas.
Agora só falta qu’aquelas percebam
Qu’aquele que fia desfia’igualmente.
SE DANTES PUIDEMOS ERGUER ESSES MUROS
AGORA PODEMOS FAZER-LHES JANELAS.

terça-feira, agosto 09, 2011

"We know you can be anything" (Uxío Novoneyra

Nós os perdedores de hoxe, 
para os que o perderon e deron todo.

Nós os derrotados
a terra queimada de carthago
os portadores da caixa
os reconstructores.
Nós unicamente os violentos

Hóstia hóstia hóstia
nos fucinhos e as costas.
Quen somos nós
Os saqueadores
Os terroristas
Os Bin Ladem
Os asasinados.

Os mortos vivos
para os nosos mortos
a-sa-si-na-dos.
Deixados e abandonados
nós sós, noite sempre nosa
cunetas enteiras de homes
son as nosas coitas.

Violencia
paro
violencia
explotados
violencia
desahuciados.

Quen somos nós
nós somos a intifada
o terrorista, o criminal,
o asasino asasinado.
Os violentos aos que eles matan.
Nós somos a categoria
na que o sistema nos ten
CA-TE-GO-RI-ZA-DOS.


sábado, agosto 06, 2011

gostaria

Gostaria dos nom-serem
Qu’ainda’a miúdo’estranho tanto
Cousas miúdas e singelas
Qu’escurecem numha’ausência
O viver do ser humano:
Um dormir coas costas quentes,
Nom sentir ess’ódio’ao próprio,
Partilhar algum segredo
Dos que moram na cabeça
De quem sonham entr’insónias,
Viajar a’algum momento
Em que ria como’um neno
Nem importam os motivos
(Pois agora nem consigo),
Nom sentir-se miserável
Mesmo por qualquer palavra,
Por qualquer absurdo feito.
Gostaria de viver
Dias novos e nom velhos,
Nom sentir apenas tédio
Quando nasça’o sol de volta
D’afastados hemisférios
Onde morem outras gentes
Que consigam, como’os nenos,
Rir por causa dum mistério...
E’esquecim há tanto tempo
O porquê do rir sem causa
Que nom sei nem como aja
Pra perder o medo néscio
A’essas línguas miseráveis
Que nom sabem brincadeiras
Que nom sejam dos segredos
(fantasias, muitas vezes)
Dos que querem ser ingénuos.

domingo, julho 31, 2011

Sursum corda



I.
Umha selva virgem
de espécies insinuadas
mestizadas polo devalar
da Estória,
Transitam na face
deste reino, de taifas.

II.
Eu quero trabalhar
fazer da minha vida
umha vida onde poder
erguer umha história
que seja minha.

S o n h a r ,

com ter máis
e nom ter menos
com ir a máis
e poder mercar-lhe
a um meninho
umha bolsa de pa ta cas
f r i t i d a s cando a estaçom
esteja pechada no inverno.

Eu  fazer , constru ir
a minha identidade social
ter um algo polo que dizer
som eu, aquel que é o que fai
psicóloxia de h omes
buscando um aquel.

Mas é cri se
homecrise de pa ta cas
fri ti das em esta çons a bertas
cara o lugar onde ninguem

vai
vai 
vai- TE

é lerne noite
na amanhecida
é azul cobalto 
no coraçom
é pandora malcriando
aos seus filhos
por umha zanahoria
por um pao 
um saxofom.

Vou,
Vou
Vou

por umha selva 
selvagem
matinando entres as feras
que som
que es
que é
identificaçons sociais
do que som
e do que querem ser
Prévio pago de 
suor
tempo
tenhem a costa de 
pa de cer
mas nom som
coma na minha selva
sofri dores sem terra
que arar ou sementar.

Estou
acendendo umha bom bilha
em hallam ou saint John street
com a suor de
geraçons enteiras
que me trouxerom aquí
e que possívelmente 
nom volvam vir.
Nom podo ser
quem quero ser
tenho que ser o que som
um ninguem coma quem diz
um balbino tirando pedras
ao baleiro espaço da devesa a rrin ca da.
E vou,
indo coma quem vai
selvagem
entre selvagens que si podem
ter
um contracto social.
Um acto social
um sonho de esperança
queimado na caixa das virtudes
que já se marcharom
ao candor dos deuses
que matarom aos 
meus.meus.meus.meus
Esta noite 
é a noite
é a noite
a noite é
na que matino sobre nós.
Nós sós 
sós nós 
o barco nós.
os meus sós nós
os que se forom 
os que aínda som.

quinta-feira, julho 28, 2011

Férias feriadas de verao

Orfeu lisca entre a tremosa corda
da insegurança
dum peito que já nom é o meu.
Perante o abismo do futuro
erguem-se os interrogantes e o medo
como coro trágico da mocidade galega
como preságio saudoso
dumha vida  que maltrata os valentes
e condena na incompresom os generosos.

E aqui jaz Antom Fente Parada
em parada cárdio-repiratória
saudoso de saudades morrinhentas 
ecoadoras dum eco que se apaga
no desengano cruel da aprendizagem vital
sempre inconclusa.

Som pedra tenra de sentimentos
que guardo numha artesa
sob as sete chaves do medo,
da inquedança,
da incerteça,
da insegurança,
do amor,
do desamor 
e da esperança.
A chave mestra já nom a tenho eu...
perdeu-se no estantio das estrelas
onde Antom Fente nasceu e morreu
metido num quadro fotográfico
composto de pena e de amor.
Nom há bágoas neste passamento
só o teu nome marcado a fogo
na apodrecida tábua do meu peito.
Longe ouve-se umha voz...
se calhar fala de reencontros.

Velho paxarinho conta-me hoje
junho de 2011
que foi daquele rapaz rebuleiro
que tu conheceches
e que eu esquecera.

 Di-me como lhe foi.
Se algumha vez foi feliz
e por quem derramou as suas bágoas.

Dá-me conta das suas arelas
e se ainda vive entre os cínicos
en convívio com um galo sem penas
com as mulheres e homens de Platom.

Talvez nom vejas isto no teu ninho
e os vossos coraçons
-páxaro sem asas nem peteiro-
estejam soterrados no ichó
descarnado do desespero.

domingo, julho 17, 2011

Ave Caesar


Ave, Caesar, morituri te salutant 

Odeia-me com essa carragem indiferente
Faz-me bonecos budú e arrastra-me
É possivel que a fim e ao cabo nos comam
a todos os no nicho os vermes.
Odeia-me sem paixom
Faz-me da minha pel bombos e tambores
Des-pelexa todo canto digo
antes ou despois importará
que terás raçom. Has ganhar.

quarta-feira, julho 13, 2011

O filho da terra

"Trabalhar, Trabalhar, deica cegar lhe enxordar"
Uxío Novoneyra

γη έργο
Filho de labregos,
neto também o é.
Um ninguem coma quem diz
Nascido por obra da espécie
maiormente máis evolucionada
para o caminho lento da súa extinçom.

Filho de labregos em París,
Neto também o é em Madrid
Bisneto o há de ser em Londres também.
Um ninguem coma quem diz
mirando a través da eternidade extinta
das geraçons erguendo ribeiras a mao.
Sempre serás, Γεώργιος
Nom se posse deixar de ser que se é. 
E ti quem queres ser?

RAIVA DEFCON-1

Nom sentides manos e manas
Essa raiva’acumulada?
Tenho-a’eu cá entr’as entranhas,
A ferver, mesmo nom pára...
Mas contodo
(Quando’o ouço m’incomodo)
Muita gente diz’agora
Qu’a’injustiça faz a norma
Que de sempre foi o conto
Nem há cámbio que se poida,
Que s’entenda
Por palavras mais singelas:
Bem s’atura tal tragédia
Já nascemos todos nela
Mais sofremo-la sem queixa
E direi-no pola mesma
Sem que seja tam confuso,
Pois no fundo
Há’equilíbrio neste mundo.
Tás maluco?
Todo’é tam escuro’e duro
Como nom acordo nunca,
Isto’é merda, estado puro.
É momento
D’os pomares darem fruto
Mas tá podre de maduro
E nom dá mais pró futuro.
Que’aguardamos?
A que falem nossos amos,
Recebermos seu bom grado
Pra cumprí-lo de contado.
Ainda máu,
É melhor este tirano
Qu’algum outro desgraçado
Qu’há de vir jurar o cargo
Pra correr-nos à pancada.
Traga bílis,
E que baixe da garganta
Como’é uso nos escravos
Ao’acabarem a jornada:
A miséria nem exige
Subcontrataçom,
Tá’isto bom!
Nem me quadra
Este jogo coa baralha
E’a vocês meus camaradas?
Neste jogo quem mais ganha?
Por agora
Ainda temos benefício
Mas s’esgota, polo visto
Fica’apenas sacrifício
Neste mundo qu’herdaremos,
Sejas pobr’ou classe meia
Venceremos
Apesar desses que dizem
Que tá’a cousa muito feia,
Diz que nada poderemos
Ainda que nos lev’o demo.
Que safoda!
Essa classe dirigente,
Psicopata’inteligente
Que nos quer meter o dente,
Olha’os mídia,
Mercenários dos d’arriba
Qu’assassinam com mentiras
Pessoal muito’experiente
Co’argumentos sempre prestes
Pra’encantar os inconscientes
Co’essa língua maldizente
Que nom fala quanto mente.
Tám à vista
Embusteiros muito’austeros
Que nem gente considero
Deles mesmo nada’espero
Que nom seja desespero.
Som dous passos
Os qu’agora mesmo restam
Pra que arda toda’a merda
D’opriminte pestilência
Qu’escaralha’este planeta,
Merda’astracta’amais concreta
Inflamável como’a breia
Qu’amanhám explodirá
Como’à noite de Sam Joám
Pois parece todo calmo
Mas é’anúncio de tormenta.

terça-feira, maio 31, 2011

Mijam por nós e querem-nos dizer que chove

A Macuzinha, porque do doce e mol do seu coraçom sai o trevom da força do meu peito.

http://estaticos.20minutos.es/img/2006/03/06/370434.jpg
Tebras.
Verbas fundas que ferem como o arame de espinhos
erguido em cilício na catedral da opresom e da dor.

Sons.
Cores espidas que jogam os sentimentos à poça do narcisismo
enclaustrado no mosteiro da carragem espúrea e alheia.

Números.
Días cinsentos e velhos que nos lembram desde o bafo da fiestra
vital em que nos espelhamos o pouco que nos fica por viver...
ainda que outros nom queiram que vivamos.

Mijam por nós e querem-nos dizer que chove.
Da mansedume à autoorganizaçom.
Da indignaçom à rebeliom.

SETE CANTIGAS DE LUZ
PARA UMHA HUMANIDADE DESESPERANÇADA.

terça-feira, maio 10, 2011

ENSÍN MIEU (homenax a Nené Losada Rico)

Nes míes ales d'andarina
Nnacen vientu ya lluvia fina,
Xiblan perpronto “primavera!”
Nesta mío annada cabera.
Inda me xebra'l munchu tiempu
De la mio muerte col iviernu,
Ensín ser cría como yara
Cuando inda taba na nniada.
Quédame un tiempu escaecíu,
Ya alendándolu adormecíu
Pente suannos escoloríos
Esnalo pa au xelan los ríos...
A mou, calteniendo la vida.

terça-feira, março 01, 2011

Adicado a Raíz Verde.

Dominación en curso:
fuso que taladra o meu sexo famento.

Saída de emerxencia:
Princesas ou putas, indiferenza nas coxas.

Perigo de incendio:
muxir de gusto, berrar de pracer.

Apelativa directa:
Fó-de-me!!!

Elementos afíns:
A miña cama elemento abranxente de nós.

Procesos exclamativos:
Non berres, o teu pracer é-me nulo.

Rutina social:
quérote.

quinta-feira, fevereiro 24, 2011

Bombón de coco que comes a dor:
Os ollos da Gorgona nun conto sonoro,
prólogo que rompe o sono,
solpor monótono onde todo provoca noxo.

Novo morto con bordón de pólvora,
grolo homologado cun oprobio
que non podo romper.

Olor a morto dun pobo que chora complots,
lóbrego mollo que borroso concorre a tocar o sol.
No foso un lobo:
AAUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

Sede

En tódolos recunchos
sede de amor
proxectándose nun alguén descoñecido

En tódolos recunchos
sede de ti
proxectándose en ti

En tódolos recunchos
sementa o desexo
destinos comuns
entre as mesmas raigañas
da nada.

terça-feira, fevereiro 22, 2011

Dende o inferno

Dende o inferno
sen esperanza
sen futuro
agarro con forza a palabra
e re-existo coma un trono de luz
na máis absurda escuridade

Dende o inferno
maldigo
insulto
revólvome en improperios
asesinando deuses xa pasados

Dende o inferno
fago re-existir a vida
baleira de sustancia

Dende o inferno
moldeo a rabia
coma un alfareiro de baixos fondos

Dende o inferno, si, dende o inferno
chegarei a Deus
re-encantando a vida que me foi roubada

JAMBOS À PRIVATIZAÇOM DO MUNDO

Pairava'um deus no nevoeiro
Por cima dum planeta'informe
Coas cousas todas misturadas
Fazia todo'a mesma massa.
Vontade tivo de falar
Com voz altissonante'e clara
Enquanto dava'à rocha forma
Pra'além da dumha'esfera simples.
Chamou por Ódio'e por Amor
E deu-lhes nascimento'a ambos
(Assim engendra'o deus as cousas,
O Nome cria'a Existência),
E deu-lhes ordens claras a'estes:
“Fazei que se repelam esses
E'aqueles elementos s'amem,
Agide como mais gostedes
E dade vida'à Criaçom”.
Assim s'unírom certos átomos
Enquanto'os outros s'afastárom
Criando-s'água, rocha'e gases
Que dérom consistência'ao ar.
Depois co tempo veu a vida,
Agroma'aos poucos, lentamente,
Amor mais Ódio lá'intervenhem
Fazendo que se desenvolva
Nascendo'assim Evoluçom,
Que dá diversidade'àquela.
A água fria cai à terra,
Inunda'os vales mais profundos
E val-lh'à vida de morada
Um tempo'até qu'está tam cheia
Que sobem peixes parà terra
(Por ordem d'Ódio que lho manda),
Paragem que governam fentos
E bechos miúdos d'oito patas.
Passado'o tempo todo muda
E venhem novas dinastias:
Prosperam uns lagartos grandes
Até qu'un asteróid'enorme
Chamado por Amor à Terra
Dá morte (quando bate nela)
A muitos bechos no planeta,
Depois a'herdança passa'a seres
De muito pelo'e sem escamas
Dos quais alguns se fam mais listos
(Co'engenho'e mais coas ferramentas
Conseguem o que nega'o corpo)
Até crescer em grande número
E dar entrada'em pouco tempo
Ao reino'hodierno dos humanos.
Daquela'o deus ficou pasmado
Ao ver aquilo qu'iniciara,
Deitou-se na'erva que gromara
Sob pés divinos lá fincados.
Nom deu passado nem por sono
Ao vir lá'um homem a berrar:
“Levanta-te daí, mangante,
Aqui'este sítio já tem dono,
S’agora nom te vas embora
Terá de vir por ti'a polícia!”
E foi-s'embora, espantado.
A’um rio próximo chegou-s'a
Beber um grolo d'água fresca...
Também nom puido, pois chegou
Daquela um guarda pra'informar
Da propriedade qu'os seus chefes
Ganharam sobr'aquelas águas.
Zangado'o deus subiu a'um monte
Co fim de respirar ar puro,
Nem isso puido'o desgraçado:
Um gajo co'ar engarrafado
Contou-lh'entom qu'o ar de lá,
Tam limpo'e sem contaminar,
Pagavam-no'a bom preço'abaixo
Nas grandes urbes poluídas;
Propuxo-lhe fazer negócio,
“Ti pós dinheiro e'eu a'ideia”.
Botou a'andar o deus contendo
A raiva'acumulada'ali
E foi buscar a'Amor e'a Ódio
Pra ver quem foi o responsável
Do'invento'aquel' da propriedade
E'rebentar-lh'os dentes todos.

quarta-feira, fevereiro 16, 2011

Cileirom "dos tesos cumes"

Hoje vou probar algo novo máis que escrever aqui versos, vou a probar com umha improvisaçom de poesía no que eu chamo "Cileirom dos tesos cumes" lembrando ao "Caurel dos tesos cumes" de Novoneyra. O video foi feito em Cileirom, na ribeira do Cabe em Pantom e mirando para Sober que é o lado que se ve junto com o túnel e a ponte de ferro do trem. Um trem que dentro de pouco polo que se ouve deijará de levar passajeiros em favor do AVE que virá por Ourense, está velha vía que foi empregada por todos os nossos devanceiros para ir as vilas e cidades galegas quedará só para mercancias, ou esso dim. Assi pois deixo-vos com atrevemento esta improvisaçom de cileirom agardando que máis gente se anime a fazer cousas así e, que caralho, se gosta algumha máis podo ponher.

sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Poesia feminista em Cima de Vila

As mulheres tenhem dereito a serem putas
a foder manhá com João e pasado,
com o da casa d'alá baijo.

Sõu seres não sõu objectos
e podem foder, chupar ou galopar (Podem ser quatrualbas).
podem e devem ser mulheres
devem ejercer coma tal.

As mulheres tenhem dereito
a que as bragas lhe sejam arrincadas
com os dentes ou as linguas.

Podem ponher-se a quatro patas
ou a dúas e meia.

As mulheres som sempre, mulheres.
Os homes som sempre homes.
Os homes som mulheres, as mulheres homes
Nada os diferência excepto o sexo.

terça-feira, fevereiro 08, 2011

Glayan los mozos, retozan los banqueros

Empezar a texer nel mio corazón
les cuerdes ruidosas de los mios silencios
de viello combatente ensin más banderes que les sos idees.
Espertar y esnalar col deséu tuerbu
del pozu fondu de los mios güeyos.
Ser y reconoceme nel fala de los güelos.
Maguar nuestres acortoanes espranzas,
¡mozos y mozes!,
cómen-yles los gochos
como cascada en rigu seco, collacios:
ensin esperanza, ensin novedá...
n'Asturies, na Galiza el cantar de redençon
tamién llegará.

sábado, fevereiro 05, 2011

JAMBOS AOS CRÁNIOS DISSIDENTES E ÀS BALAS DE CAUCHU

Subiu Moisés ao Monte Santo
Pra ter co seu Senhor e deus,
O qual causou um grand’espanto
Ao’antigo povo dos judeus.
Profeta velho nunca morre,
Pois deu chegado’em corpo e’alma
Aos céus da cima da montanha
Cansado mas guardando’a pose.
“Eu som quem som” lhe dixo’o Alto
“Ninguém duvida” diz Moisés,
Seguiu “Aprovaremos hoje
A Nova Lei dos homes livres”
“Qual é’essa Lei que nos prometes?”
“Aquela que liberta’escravos;
Nom vades ter de ser submissos
A rei nengum que vos dirija,
Pois tendes plena Liberdade”
As lágrimas brotárom logo
Dos olhos secos deste home,
Enxuto polos paus levados
Da mam d’antigos opressores:
“Que boa nova nos anúncias,
Senhor do céu, do mar, da terra,
Ao povo’errante do deserto!”
Javé deu passo’a cousas miúdas
Fazendo caso’omisso’ao público:
“Sabei que tendes já direito
A ser judeus, pagans, ateus...
Sem dar origem a castigos,
Podeis comer serpent’ou porco
E nom iredes contra’a Lei.
Permisso tendes pra comprar
Qualquer produto que queirades:
Nom é vetada desd’agora
A liberdade de consumo.
Podeis até’opinar de todo:
Fazede sempre compra crítica”
Rompeu Moisés o seu silêncio
Julgando ser seu deus amigo
-Pensou que fora conquerida
A liberdade da’opressom
Por graça e’obra de Javé-:
“Que grande és, senhor de todo,
Agora já será possível
Falar sem medo’a represálias,
Seremos soberanos todos
Do mando sobr’a cousa pública,
Teremos direcçom daquela
Na nossa própria’Economia,
É pronta já irmans e’irmás
A castra’e doma do Mercado!”
Turbou-s’o rosto do Senhor
E foi pra fora do cenário
Pra dar-lhes parte d’inmediato
Às forças de seguridade
Dos actos radicais dum velho
Qu’atenta contra’a propriedade.
Chegou a bófia logo’ao sítio
E fijo roda’en volta dele
Entom apontam para’o pobre
Abrindo fogo sobr’o alvo...
Ficárom-lh’as ideias claras!

sexta-feira, fevereiro 04, 2011

A estaca-vara


I.
Era noite, o caminho estava espúreo
Quiçais a noite era limpa e clara,
Geladas ardentes sem pausa a secavam.

II.
Berros fondos chegavam ao silenço
Mas os ouvidos não ouviam nada
Berros fondos a golpes o afogavam.

III.
Era um ser sem ser. Esencia emser.
E ao fim chegou, escuro, com estar estava
Na limpa e clara, dês-cafeinada,
No brilho matinal da madrugada
Na hora dos toupos e a auga.
Estava ali, de pé, já nom sonhava
Com poesia, palavras, ânsia.
Era dono do seu destino,
O patrón da súa barca...
Tinha na súa mão umha estaca
Tinha no peto umha bala 
Tinha inferno, tinha odio.
Mirava mirava mirava...
Já nom tinha, nada.

quinta-feira, fevereiro 03, 2011

V


"¡Juego mi vida!
!Bien poco valía!
¡La llevo perdida
Sin remedio!
Juego mi vida, cambio mi vida
de todos modos...
la llevo perdida."
León de Greiff(1)


Jogo a minha vida
Coma se joga-la não doe-se
E regalo-lhe ao mundo
Umha moeda mais
De latom
no flujo circular da renda.


Vou-na levando, regalandoa,
A preço de saldo
E invento cantigas
De adolescente
Para namorar a umha dama.

Excuso-me, rejeito-me, dês-fago-me
Re-invento-me
No tapete escuro da noite
Que a Cima de Vila ergueita
Reclama.

Jogo a minha vida
Como se joga-la não doe-se
Regalo-lhe ao mundo
Um novo cravo.

Tiro-a póla ribeira lonjana e perta
Que eu não entendo
Que os meus alisados cadrís de coro
Não atendem.

Ponho-a a disposiçom da loba
da sua espada sempre sedenta
e dou-ne sem pedir nada
nem tam sequer um bico de boas noites.

Vou-na dando extranha
vou-na trazendo d'umha leira
"autra"
ela já não é minha,
a minha vida já não é minha.

Jogo a minha vida
Coma se joga-la não doe-se
E regalo-lhe ao mundo
Umha moeda mais
De latom 
no flujo circular da renda.






(1) Recoménda-se encarecidamente a aqueles que nom conhezem a composiçom de León de Greiff a leiam.

segunda-feira, janeiro 31, 2011

Palavras de Pandora


Barqueiro,
Ves a min esta noite
Tocas meu coração
Fas trabalhar minha cabeça
Coma quem visita
Musas do olimpo ou
Deuses inmortais na memória colectiva.

Meu barqueiro,
Ti sempre soio
Neste nosso mar
Que é da terra,
Que é o da nossa olhada
Desde o Faro a Corcubiom,
De Cima de Vila deica Viveiro.
Irmão barqueiro, irmão do mar.
Ti sempre remando neste nosso pranto
Sangue do nosso sangue.
Pam do nosso pam.

Meu irmão Barqueiro,
Na tua noite vou na minha
E miro, cruzeiros do sul,
Num velho desterro.
Levarom a consciência
Mas fica ainda, enterra, a raiz da cepa.

Rema barqueirinho, rema,
Que fica ainda neste noite moito mar.
Vai-lhe dando meu amigo, leva-nos,
Nós não veremos dia
Mas nós faremo-lo chegar.

Nas beiras de Babilonia


"Rema barqueirinho rema
por a beira da marola.
Rema barqueirinho rema, 
bota-me deste mar fora..."
Antonio Amigo 
(Compositor e Canteiro Galego, 
esqueceido na eterna noite da historia)

Na lagoa de Vilauge, Chantada, na Galiza Mágica



Á pátria sacrificada no altar abnegação

Polo meio dos caminhos recorro
um mar que leva ao fondo dun encontro.
A história esquesce os bos,
Niguém lembra aos generosos.
Desde o Outeiro deica Vilameá,
Desde a Paredinha a Vilar
Vai um barqueirinho a remar...
E com ele vou eu polo mar,
mentres em cas debaixo
nom fica ninguem para cantar.
Ao berro fondo dos curutos
quixerom fazer calar
mas queda aínda um barqueirinho
que aínda está a remar.

sábado, janeiro 22, 2011

Abrentes

No cinto da derrota
Na soga da sede celestial
Nos desertos da raçom
E nas praias da mentira e da verdade
Eu vejo amor. E olvido. E desolaçom.

No silêncio do universo
No falar dos utensílios
No fulgor da escuridade.
Facendo-se o mundo
Umha e outra vez.

Da-me pena os paxarinhos
eternamente tezendo
Um manto florido de notas.
Cada ano, cada século, cada milênio.
Infame é, se for, esse deus.

Eu vejo amor, E olvido, E desolaçom.
Umha e outra vez.
Infame é, se for, esse deus. 

segunda-feira, janeiro 17, 2011

QUODSCRIPSISCRIPSI

"Alegres animales,
la cabra, el gamo, el potro, las yeguadas,
se desposan delante de los hombres contentos.
Y paren las mujeres carcajadas,
desplegando en su carne firmamentos", 
Miguel Hernández: "Juramento de la alegría".
"Aparece la hoz igual un rayo
inacabable en una mano oscura", 
Miguel Hernández: "1º de Mayo de 1937".

Com dor ontogénica alimanhas
transitam polo quarto esquecido
a mala, o barco, o caminho-de-ferro
Francoforte, Bos Aires, Barcelona
a roupa negra torna camisa floreada
se o nostoi nom tem cantos de sereia
velho, canso, mas na casa
apalpa as contas do rosário da morte
neto, filho e pai de perdedores
essa herança no sangue levo
essa inacabável mao obscura
dos que sempre perdemos
dos que sempre (porém jamais) emigramos
quem seiturará agora se nos imos?
quem libertará as aldeias pantasmais?
quem deitará com raça
a suor nos bacelos da vinha?
Perdidos na dor da derrota
exilados da vitória e do manhá
a perda dos perdores é a nossa Ítica
só quem nada tem, nada perderá
E ao que tem dara-se-lhe ainda mais
enquanto ao que nom tem tirará-se-lhe
até o pouco que ainda tem
Parem os braços fouces e martelos:
cesse tudo o que a antiga mussa canta
que outro poder mais grande se alevanta...
 -. QUOD SCRIPSI SCRIPSI...



sexta-feira, janeiro 14, 2011

Irmás e irmaos

Independência das minhas dependências
No que concerne à arte poética
Do que mais gosto é do jogo
E do arrecendo a palavra desterrada
Polo género de sentimentos que me embarga
E encerro sem nostálgia na Palavra
Na forma mais efémera e eterna
Dos desejos que esta pena encerra
Entre livros, gentes e poemas
Noctámbulos de derrotas e de arelas
Caducas no sol-pôr dos descridos
Impávidas no peito dos teus filhos
Armados, Galiza, com a apócema do teu nome.
!

segunda-feira, janeiro 10, 2011

500 anos nom som nada. Ladaínha de aninovo

A cadeira do tempo
derrota a inmensidade oceánica
dun pobo asoballado 
pola dor de perder a quen se ten. Soraya Cortiñas Ansoar, poeta chantadina, no seu poemário a-Mare ai-Alma.

Os bois bons e generosos
aram no caudal salgado
dum mar gelado
onde nascem repolos,
remolachas e chiroubeas.

Em mar aberto pescaremos
a anciá desconhecida LIBERDADE
deusa onipresente na boca-podre
dos opresores da boca-pobre.

Há um pesebre com erva na corte,
umha masseira em que sempre se deita farinha
de milho e bica de Trives nevada
de açúcar e bola de centeu da Ulha.

Os mesmos marraos sem vinco
foçam reforçando-se a força de folgar.
Bufa o vento na burata da nossa casa caída
e mianha no palhar a fruge da cadela pairida.

Som ruralista. Som seica de la aldea.
Som pequeno-burguês. Som seica senhorito.
Som simbiótico, antibiótico e galo de peleja.
E a minha caralha nom cicha, mija missando

este requiem dum povo assobalhado
que na eira e no adro
com retranca se ri ainda -moribundo
e com boina- do seu amo.

Rego a rego, labrego;
palada a palada, albanel;
cerveja na tasca
e leite com mel.

E é que este ano tampouco
[a "vanguarda" e os "proletários"
(formosa abstracçom M-L)]
nos figérom a revoluçom...

nem o amor.
Rego a rego, galego.
Verso a verso, labrego.

                                                             E 
                                                            o
                                                                   tempo 
                                                                       escorre-se
                                                               deste 
                                                                               relógio-de-areia










segunda-feira, janeiro 03, 2011

Dispensas

Envólve-me o velo tibio da santa noite
e cráva-se-me pouco a pouco em cada um,
finíssimo e débil, fundamental 
a vez que necessário oso...
Algum dia seram menos ainda, mortal,  
seram polvo...

Mais eu nom precisso a persistência,
nom creio correcto arrabunhar...
a madeira,
as sabas, 
a pel,
o vento, 
as bragas...
Non creio que seja necessario
re-di-mir-se.
Viver exime. 


José Benlliure, A barca de Caronte ou Estigia.