Pesquisar este blog

terça-feira, dezembro 28, 2010

OLHAR DO MEU BAIRRO.

Nom vedes, meus caros, nos meus tornezelos
Os ténis comestos do tempo,
Da terra, do’asfalto, da chúvia’e dos ares?
Penduram por cima do cham areento
Os figos naquela figueira
(Arrecendem tam perto da noite vindoura).
Os olhos perseguem as ramas dos pinhos,
Perseguem os ventos inquietos
Daquela’inquietude do vivo que morre.
Aqui, nom hai muito, moravam pessoas
Casadas coa terra’e co mar
Que davam as cousas que mais precisavam.
Casados coa vida’e coa morte falavam
Dum mundo pintado por eles
No qual agomarom as súas raízes
Chegavam a ter alimento pra si
Buscando sustento na Nai,
Agora que pouco nos fica daquilo!
Já vedes em todo’o lugar no meu bairro
Uns velhos que morren, e nascen
Uns novos que chegam a’um mundo distinto.
Nom vedes ali canavais e silveiras?
Verdescem por cima de campos
Que negam uns frutos mui caros prá venda.
Nom vedes reflexos nas águas salgadas?
A pesca’industrial leva todo
E pouco nos deixam a rente do mar.
Nom vedes ali rapazada mais nova?
Já sonham cum mundo distinto,
Já sonham com urbes enormes e grises.
Nom sei se já vedes o tempo que fica
Enquanto nom morre’o que resta,
Deixando comesto’este mundo dos velhos,
Comendo’as figueiras e’os figos com elas,
Os pinhos e’os ventos inquietos,
O’asfalto e’a chúvia e’o tempo que come
Os ténis que já nom terei pra daquela
Assi tocarei esta terra
Guardando memória dum bairro’esquecido,
Assi tocarei esta terra
Por última vez a’aguardar pola morte,
Assi chegarei a ter Paz.

segunda-feira, dezembro 06, 2010

Coraçom de auga-neve
nos suportais enegrecidos
espera o vento do norte
com os membros tolheitos
polo comboio do gelo
e os dintéis do esperpento.
O paxaro morto reclama
    - águia, corvo, melro-
    a eterna idiócia que ensalça
os beiços de marmelo
a impostura de gravata
e o arado no copelo
fai da terra a sua safra
onde cem nenos pretos
jogam com buxo à bilharda
entre pinheiros e fetos
e esterco que com a auga abranda
como amolece os velhos feitos
onde só o presente manda
pois no semáforo da fábrica
mil televisons estám paradas
e espera redençom em breve
o seu coraçom de auga-neve
na anterga língua das fadas.
Coraçom de auga-neve
cérebros de manteiga
chuchaméis derretidos
alma de escravos e plebe.

quinta-feira, novembro 25, 2010

Miramos ao céu

Houvo um tempo no que eu
também caminhava com os pés nus.
Levava chaleco e guarda-costas,
era a vista de todos um homem bravo
ninguém ousava mirar-me.

Eu tinha o mundo nas minhas mãos
ninguém me tossia.
Houvo um tempo no que não era
um escravo.

Esse tempo marchou
foi-se o verão
veu o outono...
Caendo forom
meus sonhos
como vai cabalgando a alopécia
e já não cada vez
que sonhava durmía.

Agora miro, coma todos, ao céu.

sábado, novembro 20, 2010

Ti

Suspiro e miro ao teito

Pénsote

Imaxínote

Recórdote

Algo na túa presencia
é coma droga benigna

Algo no teu silencio
acompáñame

quarta-feira, novembro 17, 2010

Verba volant

Ven, que a noite é longa para min 
e fanme falta novas follas de papel que escribir.

Preciso acendas o meu corazón aquí
para que o eco fique do seu latir.

Volve, que me falta alento
e as polas do laureiro non deixan ver

Volve, que ven frío e rabioso o vento
e preciso abrigo co que poder ser.
 
Existir por algunha razón
ou motivo que non sexa o extravío.

Porqué hai despois de todo amor?
e se todo termina mal por qué é esquio(3)?

Scripta manet, Escribir,
por qué queremos per(2)vivir?

domingo, novembro 07, 2010

Mini-saia pastoral

"Pinta sobre o marco da túa conciência
com sangue do carneiro que te emprenha", Jorge Pérez Árias



Deixade que os meninhos se acheguem a mim
para verem o lagarto pintado
que move o báculo
na saia de Carolina.

Ao passo de Atila esvaziam-se as ruas,
ensurdece-se sob a tiara a liberdade
que se domestica com porras
até que as conciências ficam nuas.

4 milhons voárom até a Berenguela
e do Botafumeiro sai um insuportável fedor
a medo, a grulheira, a mini-saia pastoral.
Todos os objectivos cumprírom-se.

Eu nom te esperei.
Nós nom te esperamos.
Autonomismo extrovertido e laicismo agresivo.
E o caralho, perdom báculo, é um pau.

Carolina se o pintou, fixo bem.
Na cona da velha nom manda ninguém.
Porque umha cousa é a liberade
e outra a libertinagem,

e este nosso Reino deles
é lugar em que os cegos
fam de Lazarilhos dos eivados.
Eu nom te espero.

Nós nom te esperamos.
Sabes bem, santo dos croques,
que o nosso reino nom é deste mundo
porque para nós o século XIX ainda nom rematou.

Nós esperamos contra toda esperança,
sem Quixote nem Sancho Panza,
república e socialismo para o século XXI.
Porque deus também é ateu.

Consumatum est.
Ergue o teu rodo,
porque rapazes
nen sequer o vento é noso.









quinta-feira, outubro 28, 2010

Pesquissa no diccionário

A Héctor Rodríguez, O bambino.

Estas a tempo de preparar-te
vai fazendo-o que já vem a noite.
Estas a tempo de colher as mantas
e apreender com tino a arar com ferro.

Vai preparando para teus pés
ferraduras de caucho,
que já vem, que já está aqui
ti nom o ves mas eu... eu já o ouvim.
Aquí está o que nom se vé.
Aquí chega o que nom queredes ver

Fazei-me caso: o céu vai caer.

terça-feira, outubro 26, 2010

"No meio do caminho tinha uma pedra"
Carlos Drummond de Andrade

Esqueces as lembranças
e resignas-te a viver sem memoria,
Olvidas mas ves a cortadela
falando sobre as mãos com ledícia.

Quantas noites des-tecidas num soio instante,
Quantas silvas cravadas sem sustáncia,
Como perdoar ao vizinho quando o miras?
Pinta sobre o marco da túa conciência
com sangue do carneiro que te emprenha.


Cima de Vila, 24 de Outubro de 2010.

sábado, outubro 23, 2010

Volver

Volverá crecer a herba seca
volverá o home á terra
como volven atrás a mirada
os suspiros

A terra que ule
a terra sementada
a terra mollada
con eterno capricho
de humana esperanza

Volver, como volve o infinito
a volver amar de novo

Volver, como volve o desexo
a desexar de novo

Volver, fuxir da nada
deixar atrás o eterno presente
coa humana angustia
dunha viaxe ao descoñecido

quinta-feira, outubro 14, 2010

Macramés, Parcas, Musas e orgasmos.

Tecendo un macramé sexual no que as túas sacudidas son o compás da labor, os fíos de cores son os xemidos afogados e a vergonza non existe: fiquei sen pudor.
Parches de nicotina con sabor a orgasmo, ese orgasmo que tanto tentas procurar en min (iluso) e que só de min depende.

Preciso unha muller que osixene o sexo. Demasiado tempo impregnada de olor a home. Quero a Safo outra vez do meu lado.
Preciso uns labios femininos pousados nos meus.
Preciso unha lingua feminina pousada no meu clítoris.

As Parcas nos meus soños.
Musas de Dioniso no meu ventre.

Fuxe de min antes de que coa miña franqueza desfaga o teu ego masculino.

quarta-feira, outubro 06, 2010

Self-esteem

Si, ti xa sabes
educáronme no medo

O meu corpo treme
cando pide autoestima

Si, ti xa sabes
son fillo de emigrantes
ir e vir, ir e vir

Sentirse un ningures
en cada curruncho do mundo
é sentirse alguén no universo

Ti xa sabes
o que iso significa

Non ter últimas verdades
non ter certezas
non ter máis que a incertidume
do camiño

Non me pidas, entón
que fale a linguaxe dos anxos
todavía sinto a digna rabia
dun adolescente confundido

Ti xa sabes, si
o que esto significa

quinta-feira, setembro 09, 2010

DESODORANTE

Para os Argos deste meu tempo, fiéis cans cegos que ainda aguardam o nostoi do seu dono e para Penélope, este cobertor de palavras, para que a agarime, enquanto nom volta para o seu lar o seu amado Breogám.


«Abaixo a guerra colonial! Abaixo a guerra colonial! Este grito é a primeira e grande preocupação do povo português».


A moa de ferro gira parasitando o ar.

O ínclito trem de altas velocidades espanholas,

AVE Espanha!

As barragens.

Os fios de alta tensom.

A auga cocacolonizada.

As boinas deitam leite regalado

que nace en pronvincias honrado

e logo vam-no drena, drena, drenando.


Os alcolitos e os barblás do nosso seu país.

O vinho de Chantada – Lugo – España.

As palavras mortas e enterradas

nos cemitérios das paróquias.

As suas nossas gestas desportivas

com as cores que no 36 nos esganárom.

As nossas cidades monárquicas

vam-se drena, drena, drenando.


El pulpo à feira sabe mejor

con libertaZ y austeridaZ,

sin la singular imposición

que produce descomposición.


Deixade fazer,

deixade passar,

a brigada de demoliçom e limpeza étnica.

Glotofaxia e etnocídio.

O Sil é o seu carreiro.

O monte carvom e indústria.

Troquemos labregos por javalis.

Os acidentes laborais som míngua de recursos humanos,

os atentados patronais som disciplina para a força de trabalho.


Os moços.

A tua melhor geraçom mai nasceu eivada e velha.

Este vai-se e aquel vai-se.

Galiza todos se vam,

mas chega a bula papal para as gaivotas,

um passo adiante e outro atrás Galiza!


Moçambique, Guiné, Angola,

Macau, Casamança, Timor,

Brasil, São Tomé, Goa...

e a teia dos teus sonhos nom se move!


Saudade. Arredores sem roçar

e as lapas ardem os antigos eidos

preenchendo do eterno carbono o céu;

ou Galiza boi de palha!


Jaz aqui (privatizada, cativa e alienada,

domada e castrada)

a derradeira colónia de língua portuguesa...

Já nom aram os bois,

mas seguem-nos dizendo que chove.

domingo, agosto 29, 2010

Todo-nada

Pensar

Re-pensar

Compartir

Amar sen cadeas, sen límite

Cambiar a vida

Iso era todo

Queríamos fuxir da nada

segunda-feira, agosto 23, 2010

Da noite os sonhos

No meio do monte espreito aos pajaros
e fito de lonxe voar suas novas ninhadas...
Vejo-os marchar umha outra vez em setembro
e pergunto sem teima para os meus adentros...
Balbino, onde é que vam os pajaros morrer?
E os coios calados entre herbas contestam
que os pajaros nom morrem que eles ecoam
no mito e no logos no ciclo da auga, no sol e no vento.
Os pajaros, Balbino, nom morrem que marcham
ao som da muinheira ao chega-lo setembro.
No meio do monte observo bulir cara algures
pajaros quiçais que forom mulheres enxendradas de sonhos.
Observo bulir os pajaros cara ao sol do verão, cara noite.
Balbino onde é que marcham os sonhos?

sexta-feira, agosto 20, 2010

O baleiro mundi em pecatta.

Os sonhos ficam entre os coios das paredes,
também arrombados no faiado velho
nas cepas da ribeira e entre a herba outrora verde.
Ficam ali agardando a ser de novo posuídos,
agardam que o seu dono os saque do silêncio.

O vento peitea o val coma sempre acesso
pola lúa secular e nova que fai medra-la vida
e onde há terra pode que haxa cedo muitas silvas
que conduzam com seus picos aquel infame día,
em que os sonhos ficarom deitados nas lameiros,
entre os coios dos caminhos, nas uvas verdes, nas paredes.

Os sonhos ficarom sós e solitários, desherdados.
ficarom para sempre petrificados em desejo...
Em facho preso que nom alumea rem,
em caminhos da noite que nom falam
nem som feitos tampouco por ninguém.
Os sonhos vezam que som sonhos
como veza a vida qué etérea, baldía.
As vezes o simple é o perfecto.
As vezes os sonhos som da noite.

quinta-feira, agosto 19, 2010

Teima vida teima

Sonha, teima em sonhar,
para deixar os teus sonhos entre as pedras
que levantam as paredes da tua temporal morada.
Teima em seguir com castelos de fume babelianos
para perder a voz no eco da ribeira rega de suor.
Eleva cada noite os teus sonhos ao cenit
ora et labora para divinidades justas e piadosas
e ve como o teu coraçom se consome ao ritmo
dos pasos dos bailadores na verbena do verao.
Sonha, teima em sonhar esta noite e mais a outra,
Teima em facer noite vida, teima noite vida teima.

Cima de Vila, Agosto 2010.

By the grace of god

Cen veces, repetiu

Por Deus, parade esta guerra
non teño autoridade, mais é unha orde

Por Deus, parade esta guerra, ordénovolo

Dúas balas; unha, no peito, dende o campamento
inimigo

Outra, nas costas, dende o seu campamento

Crebaron o grito da súa gorxa
coma nun lamento entrecortado

Por... Deus... parade..es...ta... gue...rra

Ordénovolo.

terça-feira, agosto 17, 2010

Um dia mais

"...Non chores máis xa non chores non…
Non chores mais , salgueiro probe,
ti non tes culpa da miña dor..."
Andrés do Barro, Salgueiro.


Folha do salgueiro não chores máis,
esta noite
o vento é para quem o respira
e no nosso coração afogado
abaneam as bagoas derramadas.

Não chores que ti, salgueiro,
não tes culpa da nossa dor.

É o horiçonte prenhado
o mar revolto,
o silêncio cómplice, 
Salgueiro.
Som-o, os culpáveis.

Treguas de retrincos,
Frechas de agonía e ira
para o poço das entranhas,
Horas malditas que nom soubemos
aprobeitar.
Não salgueiro, nom chores ti,
fomos nós:
As nuvéns, a mareia e os beiços fechados.

Não chores, 
somos nós Salgueiro
os que nunca deixaremos,
de chorar.

quarta-feira, agosto 11, 2010

O mel e a nada

E caes así, de repente
en forma de pesadelo
coma toneladas de cínica indiferencia
no meu ser

Chove

Arrástrome pola rúa
coma un can desganado
mirando ás cadelas en celo
coma se fosen porcelana gris
nun escaparate calqueira

Mal raio parta a esta nada de medianoite
á mirada taciturna da vella enrugada
fitándome dende o vidro húmido
ao run-run das voces nocturnas
e ás gargalladas de muller, alá ao lonxe
borrachas de viño e do mel da vida

Chove

E caesme así, de repente
en forma de pesadelo

sexta-feira, agosto 06, 2010

TRADUZIDO DO SAMOIEDO SETENTRONAL.

Conheço’umha rapaza
Um dia d’invernia
E fico namorado
Da sua formosura
Ao pouco de termo-nos conhecido
As curvas som formosas,
Os olhos e’os cabelos,
Resulta-me todo perfeito nela
Nom é por romantismo
Nem falta de sentido,
Perfeita por completo
Abafa-m’as ideias
Que tenho na cabeça,
Contemplo-a sen tempo par’óutras cousas.
Defeitos nom existem
Em todo’o qu’a circunda,
Em nada que se saiba
Produz-vos desagrado,
Porém dá-me medo’o que representa:
Radiante na figura,
No corpo, no sorriso,
No’aroma, nessa’olhada,
Na casa, na parróquia,
Na’aldeia, na comarca,
No mundo que m’afoga
Pareç’um espelho dos meus desejos
E vejo-me nel, deformada’a cara,
Sen dar aturado’o que diz o vidro,
À vista dos meus sonhos,
Daquilo do qu’eu gosto,
Já feito realidade,
E vejo nel um monstro.

Verdesce cos dias a Primavera
E fico prendido daquela moça
Que fai este mundo mais grande’e verde
Enchendo-o com ar cos seus olhos ledos,
Deixando-me tempo pra ser eu mesmo.
Nom quer conformar-se co seu aspecto:
Nariz algo grande, ou pouco peito
Orelhas grandinhas, ou as cadeiras...
E muitas cousinhas que nom confesso
Pois som os detalhes qu’adoro dela
E fam-nos humanos (ao mesmo tempo).

terça-feira, agosto 03, 2010

Límite

No límite da palabra
comeza a música celestial
do universo descoñecido
en movimento perpetuo

No límite da palabra
falarán os corpos
e os seus cinco sentidos

Palabras que ulen
palabras que tocan
palabras que degustan
palabras que miran
palabras que escoitan

No límite da palabra
na perda da orixe
xermola de novo a memoria
enchendo o baleiro macabro
da nada colectiva

No límite da palabra
na perda da orixe
xermola de novo amor solidario
enchendo o baleiro
dos sementadores de odio

domingo, agosto 01, 2010

(Traducido do Macedonio)

Come come come come
mentres ti comes
morrem a outra e a esta beira
os homes.

Estómagos agradecidos
do PP, do PSOE, do Bloque
de todos os sindicatos e partidos
habidos e por haber.

comem comem comemos comem
e a sua/nossa dieta alimenta a umha e outra beira
as misérias
Mentres em cemitérios esquecidos na noite
os filhos da noite
morrem morrem morrem morrem.

É vergonhento viver, companheiro,
é vergonhento em verdade comer e
ver os homens á calor do verao morrer
ante o silêncio escandoloso dos marraos cheios.

sexta-feira, julho 30, 2010

- (traducido do castelán)

As bandeiras flameaban
ao son do vento
e peitos ergueitos e firmes
choraban xuntos as súas bágoas
coma unidos en orgulloso medo solemne

E o confetti caía do ceo
e os soldados marchaban e sorrían
!un, dous, un, dous, un....!
seguindo o ritmo dos pratos
entre o ensordecedor "!viva!" da masa

Aquel día caín na conta
do lambeteiro roupaxe de inocente orgullo
que precede a toda barbarie

terça-feira, julho 27, 2010

Medo (3)

Medo de medos
medo sen nome
medo ancorado no corpo
medo de amor negado
medo de nenez renacida
medo sen espacio e sen tempo
medo na procura de luz
medo de ausencia do corpo amado
medo á persecución das conciencias
medo aos sementadores de medo
medo á inmensidade do tempo
medo de infinita insignificancia
medo de vida sen recordos
medo ás identidades trincheira
medo a unha vida de medos

.. medo a unha vida sen medo

domingo, julho 18, 2010

Ataraxia éxitus est

O faro apagou-se,
Como hei de navegar esta noite?

Em que partida de naipes
Encalhará a minha balsa?

Que orações rezarei
Desde o meu leito hedonista
Á minha virgem Ataraxia?

Qual será o meu porto
Se o faro se pagou?

Em que calma izarei as velas
Quando o silêncio lostrega no horizonte?

Quando virás Ataraxia
Caminhando sobre as augas
Para afundir a minha barca?

quando calmará a treboada?
Vuvuzela toca,
toca vuvuzela,
no campo da feira
no palco da orquestra.

Há uma flor deitada no vento,
há um cantar tirado do mar.
A íntima essência ortodoxa
traveste-se de percebe
e os símbolos fálicos
são o guarda-chuvas
da castratio plebis.

A eira é uma vuvuzela
ensarilhada nas nuvens...
a vuvuzela é um touro branco,
as calças pesam de enxotas.
O guindastre da lua
recolhe os cavalos tolos
que vêm da feira

Vuvuzela toca,
toca vuvuzela,
no meio da eira
reuchouchio de flanela.

A flor mais cativa do mundo
ensurdece no gume de facas
e do alambique do sol
destilam-se litros de esperma
que se mexem nas vias lácteas
ao compás das vuvuzelas.
Ainda por enquanto todo bem.

Toca vuvuzela,
vuvuzela toca,
nesta nova geira
de laranjas sem manteiga.

Os homens são vuvuzelas
são números do inventário
dum qualquer banco.
Os homens bailam ao som
das enfeitiçadoras vuvuzelas
sem saberem o que são.
E o caralho é um pau.





sexta-feira, julho 16, 2010

Hope

A pesar do rumor da multitude
e das miradas, anónimas, curiosas

A pesar do ruido incesante
nas xunglas de cristal e fume

A pesar das voces
que entran e saen, freneticamente
posuíndome sen espacio e sen tempo

A pesar das palabras
que parece que enchen
e enton van, as moi condenadas
e esfúmanse coma palla seca

A pesar do recordo
que retorna, terco, insistente
traendo nostalxias e ausencias
a mares

A pesar dos pesares
baixo sorrisos forzados
e consolos inútiles
para agrado de imbéciles

A pesar de todo
de non sei onde
e non sei como
naces do máis fondo do corpo

bisbándome

A palabra máxica
que ordea e empurra
a dirección do universo

... esperanza ....

Meu coração

Esta terra tem fome
esta terra tem sede
esta terra grita em vão o seu nome
e chora o chão que nada pede.

Esta terra incógnita quer-se sua
e da sua semente;
não se quer alheia e forasteira
para a sua gente.

Esta no cárcere da miséria,
nos Gorgoridas em Madagáscar,
- assaltada e colonizada -
esta Chantada antiga
esta Chantada nova
esta Chantada menina
esta Chantada feminina
esta Chantada - família
esta Chantada - esperança
esta Chantada - Galiza!

A eterna estadeia dos João, Xavier,
Avelino, La Voz del Agro e tantos outros
repenica em coro trágico um
"Chantada ergue-te e anda"
- como em Irlanda, como em Irlanda!-
um Chantada coração da Galiza!

Um passado e um futuro
dos canos do Minho à costa de Matança:
esperança, esperança, esperança!
Esta chantado em ti
esse camaradão tolo e fedelho
com nome coração.

sábado, julho 10, 2010

Ausencias (traducido do castelán)

De tódalas ausencias
a que máis doe
é a ausencia de esperanza
carcomida polo silencio do pobo

De tódalas ausencias
irrita a ausencia do nós
e a indolente arrogancia
de home de estado
sementando olvidos e promesas
coma quen sementa estupefacientes

De todalas ausencias
nin acordarme podo
pois se as xuntase
bañaría tódolos rincons do mundo

De tódalas ausencias
veu a ausencia de futuro
e díxome, che, compadre :

O día de mañán xa non haberá mañán
e entón viviremos nun agora constante
asfixiado por millons de primeiras do singular

De tódalas ausencias
irrita a ausencia de coraxe
mendigando alivios e compracencias
e a voz dos mortos que aínda viven
esixindo verdade, reparación e xustiza

De tódalas ausencias
crece a ausencia de memoria
pavoneando futuros
sementados na máis absurda nada

De tódalas ausencias
temen a ausencia de medo

As máscaras saen por fin
ao baile de disfraces
a música detense
a primeira voz
espida e núa
exclama, por fin :

Gardamos un silencio
bastante parecido á estupidez
Apareceron de novo
os arquitectos de cavernas
coa súa retórica macabra
expulsando odio polas veas

Non teñas medo

Non te escondas

Non pagues coa súa moeda

Non deixes de ollar o mundo
coa irreverencia do neno rebelde

Non deixes de resultar arrogante
perante a humilde hipocresía do odio

Non deixes de amar coa tenrura
dun vello cascarrabias

Non deixes de sentirte libre
digno
noble
recto
e xusto

Non teñas medo ao desexo

Non pretendas agradar a unha maioría

Non separes as túas palabras do corpo

Non trivialices a dor do "outro"

Non te enganes con finales felices

Todo está comezando de novo
a cada segundo
a cada minuto
a cada hora
a cada semana
a cada ano

Todo está comezando de novo
o seu odio
e o teu amor
o seu medo
e o teu desexo

Todo está comezando de novo
non descansarás
na compracencia
das últimas palabras

domingo, julho 04, 2010

Andandas de grilos cantam esta noite para min
E estreitam o ceu com as nuvens cara ao rio
Um pouco mais e o ceu poderia caer-nos enriba
Da testa.

Neste espaço aos grilos falta-lhe o vinho e a cerveja
Para ver que as estrelas e as nuvens enriba se lhe venhem.

Numha insólita clarividência ao cam veu-lhe o entendemento
Para deijar de botar-se aos autocarros e o gando
E manhá nom haverá hecatombe em que celebrar sonhos
Feitos realidades por umha espêcie de... valor da vontade,
De atrevemento do cobarde que morre sem amor, every day,
Sem atrever-se a fechar os olhos e nom pensar mais, em nada.

Andanadas de grilos cantam e me acompanham á volta da ruada,
Amdanadas de grilos me cantam que estou errado nesta andanada.
Andanadas de grilos festejam umha outra vez que nom nos atrevemos,
Grilos que nom se detenhem, que nom calam, que nom param.

N-120 e... grilos que andam... andam... andam....

sexta-feira, julho 02, 2010

Nai / Madre (traducido dende o castelán)

Cando o pánico asalta de novo
e imaxino a túa mirada, doce e serena
coma un rumor de ausencia
nun aquí e agora

Cando a gratitude infinda
da túa paciencia de nai
supera con creces
calqueira amor concebible

Cando a túa ausencia faga
sentirme débil e vulnerable
e a túa voz sexa tan sabia
coma o rumor do río
e o tempo das túas miradas

Cando non alcanzo a entender nada
nin do divino, nin do humano
e o teu rostro aparéceseme
coma un consolo
de coñecimento impotente

Cando, ao fin, obsérvome
e vexo en min o resultado
da túa laboura de artesá

A miña ira, o meu amor, o meu medo
o meu odio, a miña anguria

Volven ao misterio
do neno que deixache ser
e do home que agora son

segunda-feira, junho 28, 2010

Amo o que nom vê
mais ca o que se vê
porque creio mais nos sonhos
ca nos olhos
cansos
de ver e rever
porcalhada e piolhos.
Quero a dignidade dos nenos de carvom
olhar limpo dos deserdados
os coraçons vivos dos oprimidos conscientes.

Nom me valem as nenas de chucha-mel
nem os reis dos papéis numerados.
Nas notas da Galiza só vam as cachenas.
Nom me vale nada este mundo
porque o tratamos como as religions o tratam;
“estamos de passo”.
Nom. Nós nom.
NÓS
saímos-vos ao passo:
e já avonda!
É mais doado morrer.
É mais singelo e mais barato.
Mais ca viver e sofrer
dixo o poeta.
Eu nom quero morrer.

É mais doado luitar.
É mais singelo, embora ingrato.
Mais ca viver morto
dixo o profeta.
Eu nom quero viver morto.

É mais doado amar.
É mais formoso e humano.
Mais ca viver e luitar.
Digo-cho eu.
Eu nom quero o amor seu.
As moedas riscam o vento
e as notas sujam os sonhos
Cores fume luz
Todo disposto para o show
Luxo glamour aparência
Coraçons mortos
Azul opaco morte e negro
balbordo nas avenidas
estrondo nas oficinas
silêncio, silêncio nas mentes
azul opaco nos olhos
verdes
olhos.

sexta-feira, junho 25, 2010

Oda para os novos Deuses

No meio do despreço, senhor, nom imploro misericórdia
o ceio e a terra me bastam como gracia para ser um homem
pois mentres o vento corra e a auga baixe, com eles fluirei.

No meio da derrota, senhor, nom reclamo justiça, nom história,
que os meus pés pissam a herba e meu coraçom baila nas bágoas
asobalhadas dos que vinherom e dos que serám... Esquecidos.

No meio deste insidia, senhor, nom precisso justiça, nem adulaçons...
Soio o coraçom livre e a conciência sá para ser... livre
no meio da noite sem coidado nem segurança, sem medo.

Em quanto a terra é dos meus pés a cada intre
e o sol, a auga, as arbores, a música, a poesia
eu nom precisso de ti nada, senhor, nem nada pago.

Telepeagens cara ó inferno geneticamente adulterado
Microchips para sabermos que lhe digam quem somos
que comemos, bebemos... quem fodemos... com que papel...

Todo ordenado, todo gardado, nesta era do progresso, senhor,
Todo para ti, todo virgem, todo inmaculado e nada descoberto.
Permíte-me que sonhe sem cometer um sacrilegio.

Permíte-me que creia aínda em amuletos
que venere imagens com teias de ouro vestidas,
Permíte-me revestir-me de certeças que sexam herexias.

quarta-feira, junho 23, 2010

Aurrevoire

Adeus Compostela, adeus
Embora meus pés ficam ferrados da túas pedras
e ó sur devo marchar ó reencotro da terra.
Reciclar umha outra vez a alma afumada
polo cheiro a uniformes e caucho que te degrada.

Aurrevoire, Compostela, Capital inmensa
pátria da lingua, da terra, berce dos sonhos
praia onde tostar-me cinco anos a mirar estrelas,
Punto de partida e retorno para cabalos tolos.
A ti voltaram os que marcham, em ti vivem, respiram...

Ir, voltar e correr polas túas rúas
coma um pajaro sem ninho e ó final
de buscar atopar portas com habitaçons núas
que decorar e alimentar sem calma nengumha.
Meus pés voltaram, galopar, estes bares e meu lombo...
túas cunetas fondas e quentes para a noite.
Voltaram meus pés ver como chove
o doce chover da primavera dos sonhos,
o morno inverno das nuvens na praça da Quintana.
Aurrevoire Compostela, aurrevoire.

sexta-feira, junho 18, 2010

-Buscai-lhe título-

Abandonemos Ítaca e fujamos lonxe
onde nom poidam assassinar-nos
com a mirada florida da súa felicidade,
onde nom tenha força os seus carneiros.

Bulamos pois sem demora lonxe
onde poidam existir as nossas teimas:
As fouces, os alhos, ás ferraduras, as cornas
todas elas metidas em buratos de paredes.

Alá ó meio do oceano silvestre,
alá que é grande a moura
ó recolhe-los amorodos.
Ás montanhas da paz e da inmoralidade (da nossa inmoralidade).

Vaiamos cara a terra prometida
onde paraugas Cunqueirans nos protexam
da miséria de estar vivos e ver...
como se envelenam as ovelhas.

Trabalhemos com o artesam e matemos,
mais sem nocturnidade e alevosía (com consciencia), á ciência.
Fagamos vidrios coloridos, novas catedrais,
sonhemos porcos com ás e burros listos.

Burros que queiram se-lo
e que galopem sobre as nubes
conscientes da cruçada coma burros que som.
Burros que mirem ó porco sem enveja.

quinta-feira, junho 17, 2010

Cosmos (2)

Daquela vémonos vestidos
perante o falso espello da sociedade

Con ideoloxía
Con lingua-nai
Con soños

O sentimento de pertenza troca
repentinamente
na comunidade do odio

Esa absurda certeza do ser
Esa compracente comodidade do coñecido
Ese xesto paternal en forma de sentencia

Ocultando o cósmico arrepío perante a nada

¿Quenes somos?. ¿De ónde vimos?. ¿A ónde vamos?

A tríada elemental
A partícula elemental
desaparece das nosas vidas

E o ego, libre de humildes interrogantes
infla coma un globo aerostático

Os moradores da caverna
collen o timón do ágora público
e a masa deforme que os aplaude
persegue as fogueiras nocturnas
dos filósofos-poetas
prendendo fogueiras para libros

Acabouse a festa nocturna da palabra
Acabouse a comunidade
Acabouse o misterio compartido
Acabouse a ignorancia asumida

A historia íntima da humanidade
foi asasinada

O partido do odio
venceu de novo
a partida

Cosmos

Daquela véxome espido
perante o cosmos

Sen ideoloxía
Sen lingua-nai
Sen soños

E ese sentimento atávico
apodérase do meu corpo

Esa intuición do misterio
ese desgarro do descoñecido
ese calafrío en forma de interrogante

¿Quenes somos?. ¿De ónde vimos?. ¿A ónde vamos?

Tres preguntas paridas
no intre de cósmico arrepío
perante a nada

A tríada esencial
A partícula elemental
escachando o ego

Ser, tempo e incerto futuro

Ou a historia íntima da humanidade
convocada na fogueira maldita
da filosofía con sangue de poesía

terça-feira, junho 15, 2010

DIÁRIO DA VIDA NA CIDADE

01/01/01
Parece-nos muitas vezes
Que moramos em borbulhas
Restringindo’o nosso passo.

02/01/01
Daquela me torno ciente
Das borbulhas opressoras,
Quando’o dia já foi morto.

03/01/01
Fazemos um só caminho
Cada dia pola Urbe
Evitando ser curiosos.

04/01/01
Algum se pergunta’às vezes:
“Como fago sempr’o mesmo
Sem sair-me nunca fora?”.

05/01/01
Olhei um bom dia lá,
Esses sítios inda’ignotos...
Aínda temo visitá-los.

...

(Bebim a sexta à noite
Cerveja’em demasia.
Quiçá, cambaleante,
Rompim essa borbulha
E’andei por lugares que nom devera)

segunda-feira, junho 14, 2010

Praemunire

Se vinheras de novo a min
eu já nom estaria neste bosque
nem seria máis gonicela nem esquio...

Se vinheras umha outra vez
só verias montes de esterco e de palha
aguardando picanhos de mango podrido.

Se volveras verias
que as noites agora tornarom longas
máis do que forom e imaginei nunca.

Se volveras de novo aquí
é possível que eu já nom esteja
deitado entre ás cirdeiras.



Medo

Medo de non terte
medo de non amar
medo de soidade infinda
medo da besta en min
medo do medo

Nacín no medo
crecín no medo

No medo do teu amor
no medo de futuro incerto
no medo do inefábel sen nome
no medo de recoñecer o infindo
no medo de non ser nada

Medo....

Medo de non gañarte a partida
medo de amor tenro e fráxil

----

No meu país, veu primeiro o exterminio
veu despois o medo
e logo quedouse o auto-odio
e tamén, si, o medo

Despois de decenios de fascismo
democracia secuestrada
e memoria silenciada

¿Seremos capaces dun acto de liberdade?

Medo (2)

Baixache a min
dende a aparente nada
apoderándote do meu corpo

Respiración entrecortada
Inquedanza nervosa

Medo infindo, de non se sabe onde
Medo de perder o control
Medo de ter medo
Medo da nada

Mírote aos ollos, cara a cara
obrígote a creer en min
e o meu corpo latexando
fuxindo das grandes verdades

A min o corvo!
A min o ar fresco da mañán!
A min a sublime serenidade!
A min o amor tenro!
A min o latexo da terra!

A terra que berra
A terra que xeme
A terra que regala
A terra que fumos
A terra que somos

... e a terra á que voltaremos ...

Busquei na terra
o último e liberador suspiro

Atopei, por fin
aquel "Nós" que me faltaba

Sos-Terra

Será o teu grito
o noso último grito

Será a túa dor
o noso último suspiro

Non hai bandeira máis real
que o xordo latexo da túa dor
silenciada pola infinda arrogancia
do home branco

Non hai enfermidade máis ignorada
Non, non a hai

!Dor!

Dor da súa ignorancia infinda
Dor de especie fracasada
Dor de optimismo imposíbel

!Riso!

Riso de optimismo incurable
Riso famento de beleza e piedade
Riso medoñento, tímido, escurridizo


Hoxe firmei, por fin, a nausea infinda
que me provoca a túa historia
a túa inverve arrogancia
a túa vontade de tánatos

Hoxe, home branco que eu son
exclamo ante o universo :
perdón

Perdón por herdar a máis bárbara
das historias posibles

quarta-feira, junho 09, 2010

fotografia

desatenta
com as pontas dos dedos
a enrolar os cabelos
de olhos fechados
ouvindo Summertime

que bom é Deus
porque há essa pequena
cheia de juventude e vida
no apartamento pequeno
escorrida
como pintura emoldurada
fazendo caminho novo
por cima de mim passarinhos

tem dourado, tem doçura
o rosto que o vento sopra de leve
a curva breve
de tolices suculentas
do decote em v
um círculo branco
uma flor, um avião

água de lenta passagem
além da vontade...
a estátua sorri
fazendo sorrir também os olhos
sem mudar de posição
a impalpável fotografia
se desfaz e pergunta:
_Que foi?

terça-feira, junho 08, 2010

Quizais

Mollade as barbas
en soños de ouro e sangue

Voltade logo ás vosas casas
contade a batalla aos vosos fillos

Vestídeos coas vosas medallas
faládelles de mel e gloria
da emoción do combate
e dunha morte honorable

Quizais serán algo no futuro
despois de mortos
co seu nicho esculpido en mármore
e o seu nome gravado en letras de ouro

Quizais os seus osos xazan
xunto a centos de miles de incautos

Mais só serán cifras
nos futuros libros de historia
e só serán odio
ao outro lado da fronteira

domingo, junho 06, 2010

Ficçons

The show must go on, pai
A penas há tempo de algo mais.
Umha flor, um cura e um "adios"
Que noite esta é a noite final,
na que o porco evoluciona a "marrán".

A maseira pai, para quem?
Para o velho, para o podre, para outono.
E o pesebre para quem será?
Para a ciência, para o máster, para a lei.
E o boi, quem será boi?
O filho do escravo, o neto do home, o pai de Deus.
O espectáculo deve continuar... (E animo a quem o deseje que se quere poida continuar... )


domingo, maio 30, 2010

-

Teimaban, no seu veneno, os profetas da perenne verdade
dende altavoces de altos ministerios
dende comunicados de fumata blanca
Teimaban, no seu veneno, os profetas da perenne verdade

E todo seguía igual que sempre, a pesares de todo :

O amor que duda
A rabia, confusa e muda
O desexo, sen muller concreta
A ansiedade, na corda frouxa da incertidume

Teimaban, no seu veneno, os profetas da perenne verdade
coas súas ideas correctas
os seus pensamentos atinados
os sentimentos funcionais
a súa vida “útil”
Teimaban, no seu veneno, os profetas da perenne verdade

E todo seguía igual que sempre, a pesares de todo :

O seu amor dubidaba
A súa rabia seguía confusa
O seu desexo, sen muller concreta
E a súa ansiedade, na corda frouxa da incertidume
atopou novos nomes para vellas doutrinas.

quarta-feira, maio 26, 2010

NOM SEI QUÊ TÍTULO PÔR...

Aonde vades parar, caralho?
Camisola do Che Guevara
E’um cinseiro da velha Rússia,
Tedes discos na casa’a montes
Desses músicos alternatas
Que defendem os seus direitos
Com denúncias aos seus ouvintes,
(Que felizes e pós-modernos
Vos sentides hogano’e sempre!)
Vedes “moros”, “sudacas”, “putas”,
Onde nós entendemos “malta”
E sacades cartazes vários
Para mostra de vangardismo
Nesses actos tam bem montados
(Greves, berros, consignas, faixas...)
Camuflados de “gente progre”
Com disfarces de “roupas pobres”
(Quartos bem que custárom, hóstia!).
Umha máxima respeitades
-“Comunista’a los dieciocho”-
Polo tema do coraçom,
Mas se passam os anos moços,
Tem de vir o sentido’adulto.
Ha’estar todo no’armário, junto,
Numha caixa d’ideias raras
Doutro tempo distinto a’este,
Camisolas de muitas cores
E cinseiros ardentes (tantos!)
Colecçom dessas minhas cousas,
Mas do Eu d’hoj’em dia nom:
S’algum dia molesta cá,
Está todo na lista negra
Daquel eu que daquela fum
E do qu’hoje renego’e nego
Para’ardê-lo na Desmemória.

segunda-feira, maio 24, 2010

Tío William

Tío William, teño armas
necesito un mercado

Tío William, teño un mercado
necesito unha TV

Tío William, xa teño unha TV!
necesito un inimigo

¡Ey!, Tío William, xa temos un inimigo
¡necesitamosunha guerra!

Moitas gracias, Tío William.

domingo, maio 23, 2010

O tempo e a rabia

Hoxe, chamoume o tempo

Trouxo imaxes e verbas
dun descoñecido

Balbuceos idiotas dun que creía saber todo
sobre o cando, o como e o porqué

Hoxe, si, chamoume o tempo

Díxome : che, compadre, deixate en paz

Empurra as verbas e os ollos cara afora
sinte o sol, o ar, a terra
o lene rumor da xente nas calellas
o corpo da muller desexada e innacesible

Sinte o rumor do río
a pezoña da vaca
pousando no chan
as lonxanas badaladas da igrexa
os queixumes patéticos dos cans vagabundos

Hoxe, si, chamoume o tempo

E os contos de paz e guerra
e a perenne eternidade
da estupidez humana
e o odio macabro
dos perseguidores de linguas
e o eterno retorno
das culturas-trincheira

Hoxe, chamoume o tempo
... e sentín medo ...
porque neste corpo mortal
todavía latexa

A rabia

sábado, maio 22, 2010

Ser.

Eu son a poesía das poesías
poética da ausencia de pobo humilde

Eu son a voz das voces
dor sublimada de memoria sen nome

Eu son ti, e ti eres nós
e nós estamos en trance de ser

... de ser amor ..
... de ser terra ...
... de ser movimento ...
... de ser indo ...
... de ser voltando ...
... de ser respeto ...
... de ser paz ..
... de ser universo ...
... de ser infinito ...

E sendo infinito, berrar :

Xustiza

Eu son a poesía das poesías
a rabia sen nome
rabuñando acougo nas pedras

Eu son a voz das voces
!!Ey, Ey, Ey, booos días!!

Nós somos nós, e sendo nós, sumamos
e sumando somos amor

... Somos terra ...
... Somos movimento ...
... Somos indo ...
... Somos voltando ...
... Somos respeto ...
... Somos paz ....
... Somos universo ...
... Somos infinito ...

E sendo infinito, rogamos :

Deixade emigar e morrer tranquilo
a este pobo

domingo, maio 16, 2010

Fábula Antropomorfa da Dupla Escatologia

Um home sentado no banho pensava

Nas cousas mais sérias que tinha no siso.

Dirig’ um negócio, construi edifícios,

A Legalidade consegu’evitá-la

E fai o que quere no Império dos Quartos;

Os quartos nom tenhem nem muita’importáncia,

Mas dam um enorme poder de domínio:

“Aquel ilegal que trabalha pra mim,

A minha parelha cativa na casa,

Os filhos que estam a viver no fogar...

Dependem de mim e faram-no por sempre.”

No seu pensamento sorri levemente

Entanto recorda contente consigo

O modo de tê-los assi, submetidos:

“Se quero qu’estejam ou tristes ou ledos

Será quando deixe que fluam os euros,

Pois eu administro’s recursos que temos”.

Entom o cerebro detém-se cansado,

Exausto de tanto pensar sem parage

Premend’o botom da funçom Standby

Co qu’empeça’a buscar outros temas mais simples

Que tratem de cousas nom tam trascendentes

Até que decide seguir co comum,

Cumha volta àquel divagar qu’habitua

Tam pouco’agradável à gente sensível,

A’Escatologia dos seus excrementos:

“O water recolhe matéria já’inútil

E leva-a pra longe –par’ónde? –pr’ò’Inferno.

As Portas estám nest’assento cerámico,

Logo pra lá nom exíliam malvados

(Som contos de velha qu’enganam a tantos)

Somentes aquilo que já nom tem uso.”

Sem folgos decidem os mesmos miolos

Parar dumha vez o’exercício constante

Co fim d’evitarem as dores que causa

E ficam vazios olhando pr’ò vácuo.

Na casa o home, sentado, descansa,

Aguarda'a que cheguem os seus achegados,

Atento, mirando pr’à porta do banho

Que deixa se pode de vez franqueada

Pr’òuvir s’é possível a gente na’entrada.

Parece-nos todo comum e corrente

Porém hoje sent’algo raro nas tripas:

Um ruido mui miúdo que vai aumentando,

Rilhando-lh’os untos que tem na barriga,

Tornando-o mais débil e fraco das forças;

Até a’estatura lhe vai consumindo,

Cos pés já nom chega ao piso cerámico

Grande mudança padece nas carnes!

As pernas minguando penduram n’altura,

Os braços pequenos s’agitam sem tino;

Sentem-se portas no piso d’abaixo

El grita”Maria” pedindo-lh’auxílio,

A voz mui aguda é quas’inaudível,

Parece-s’aos chios dum rato medroso.

Ninguém s’aproxima pra ver qu’acontece,

Ninguém hai presente no fim deste drama

Enquanto se sume no seu sumidouro.

O home já quase nem vive, nem pensa,

Nem muito lhe resta à sua’existência.

Acaba-s’o conto coa luz apagada,

A porta do quarto ficou franqueada

E nom saberemos co tempo que passe

Quem desta família tirou da cadeia.