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segunda-feira, janeiro 31, 2011

Palavras de Pandora


Barqueiro,
Ves a min esta noite
Tocas meu coração
Fas trabalhar minha cabeça
Coma quem visita
Musas do olimpo ou
Deuses inmortais na memória colectiva.

Meu barqueiro,
Ti sempre soio
Neste nosso mar
Que é da terra,
Que é o da nossa olhada
Desde o Faro a Corcubiom,
De Cima de Vila deica Viveiro.
Irmão barqueiro, irmão do mar.
Ti sempre remando neste nosso pranto
Sangue do nosso sangue.
Pam do nosso pam.

Meu irmão Barqueiro,
Na tua noite vou na minha
E miro, cruzeiros do sul,
Num velho desterro.
Levarom a consciência
Mas fica ainda, enterra, a raiz da cepa.

Rema barqueirinho, rema,
Que fica ainda neste noite moito mar.
Vai-lhe dando meu amigo, leva-nos,
Nós não veremos dia
Mas nós faremo-lo chegar.

Nas beiras de Babilonia


"Rema barqueirinho rema
por a beira da marola.
Rema barqueirinho rema, 
bota-me deste mar fora..."
Antonio Amigo 
(Compositor e Canteiro Galego, 
esqueceido na eterna noite da historia)

Na lagoa de Vilauge, Chantada, na Galiza Mágica



Á pátria sacrificada no altar abnegação

Polo meio dos caminhos recorro
um mar que leva ao fondo dun encontro.
A história esquesce os bos,
Niguém lembra aos generosos.
Desde o Outeiro deica Vilameá,
Desde a Paredinha a Vilar
Vai um barqueirinho a remar...
E com ele vou eu polo mar,
mentres em cas debaixo
nom fica ninguem para cantar.
Ao berro fondo dos curutos
quixerom fazer calar
mas queda aínda um barqueirinho
que aínda está a remar.

sábado, janeiro 22, 2011

Abrentes

No cinto da derrota
Na soga da sede celestial
Nos desertos da raçom
E nas praias da mentira e da verdade
Eu vejo amor. E olvido. E desolaçom.

No silêncio do universo
No falar dos utensílios
No fulgor da escuridade.
Facendo-se o mundo
Umha e outra vez.

Da-me pena os paxarinhos
eternamente tezendo
Um manto florido de notas.
Cada ano, cada século, cada milênio.
Infame é, se for, esse deus.

Eu vejo amor, E olvido, E desolaçom.
Umha e outra vez.
Infame é, se for, esse deus. 

segunda-feira, janeiro 17, 2011

QUODSCRIPSISCRIPSI

"Alegres animales,
la cabra, el gamo, el potro, las yeguadas,
se desposan delante de los hombres contentos.
Y paren las mujeres carcajadas,
desplegando en su carne firmamentos", 
Miguel Hernández: "Juramento de la alegría".
"Aparece la hoz igual un rayo
inacabable en una mano oscura", 
Miguel Hernández: "1º de Mayo de 1937".

Com dor ontogénica alimanhas
transitam polo quarto esquecido
a mala, o barco, o caminho-de-ferro
Francoforte, Bos Aires, Barcelona
a roupa negra torna camisa floreada
se o nostoi nom tem cantos de sereia
velho, canso, mas na casa
apalpa as contas do rosário da morte
neto, filho e pai de perdedores
essa herança no sangue levo
essa inacabável mao obscura
dos que sempre perdemos
dos que sempre (porém jamais) emigramos
quem seiturará agora se nos imos?
quem libertará as aldeias pantasmais?
quem deitará com raça
a suor nos bacelos da vinha?
Perdidos na dor da derrota
exilados da vitória e do manhá
a perda dos perdores é a nossa Ítica
só quem nada tem, nada perderá
E ao que tem dara-se-lhe ainda mais
enquanto ao que nom tem tirará-se-lhe
até o pouco que ainda tem
Parem os braços fouces e martelos:
cesse tudo o que a antiga mussa canta
que outro poder mais grande se alevanta...
 -. QUOD SCRIPSI SCRIPSI...



sexta-feira, janeiro 14, 2011

Irmás e irmaos

Independência das minhas dependências
No que concerne à arte poética
Do que mais gosto é do jogo
E do arrecendo a palavra desterrada
Polo género de sentimentos que me embarga
E encerro sem nostálgia na Palavra
Na forma mais efémera e eterna
Dos desejos que esta pena encerra
Entre livros, gentes e poemas
Noctámbulos de derrotas e de arelas
Caducas no sol-pôr dos descridos
Impávidas no peito dos teus filhos
Armados, Galiza, com a apócema do teu nome.
!

segunda-feira, janeiro 10, 2011

500 anos nom som nada. Ladaínha de aninovo

A cadeira do tempo
derrota a inmensidade oceánica
dun pobo asoballado 
pola dor de perder a quen se ten. Soraya Cortiñas Ansoar, poeta chantadina, no seu poemário a-Mare ai-Alma.

Os bois bons e generosos
aram no caudal salgado
dum mar gelado
onde nascem repolos,
remolachas e chiroubeas.

Em mar aberto pescaremos
a anciá desconhecida LIBERDADE
deusa onipresente na boca-podre
dos opresores da boca-pobre.

Há um pesebre com erva na corte,
umha masseira em que sempre se deita farinha
de milho e bica de Trives nevada
de açúcar e bola de centeu da Ulha.

Os mesmos marraos sem vinco
foçam reforçando-se a força de folgar.
Bufa o vento na burata da nossa casa caída
e mianha no palhar a fruge da cadela pairida.

Som ruralista. Som seica de la aldea.
Som pequeno-burguês. Som seica senhorito.
Som simbiótico, antibiótico e galo de peleja.
E a minha caralha nom cicha, mija missando

este requiem dum povo assobalhado
que na eira e no adro
com retranca se ri ainda -moribundo
e com boina- do seu amo.

Rego a rego, labrego;
palada a palada, albanel;
cerveja na tasca
e leite com mel.

E é que este ano tampouco
[a "vanguarda" e os "proletários"
(formosa abstracçom M-L)]
nos figérom a revoluçom...

nem o amor.
Rego a rego, galego.
Verso a verso, labrego.

                                                             E 
                                                            o
                                                                   tempo 
                                                                       escorre-se
                                                               deste 
                                                                               relógio-de-areia










segunda-feira, janeiro 03, 2011

Dispensas

Envólve-me o velo tibio da santa noite
e cráva-se-me pouco a pouco em cada um,
finíssimo e débil, fundamental 
a vez que necessário oso...
Algum dia seram menos ainda, mortal,  
seram polvo...

Mais eu nom precisso a persistência,
nom creio correcto arrabunhar...
a madeira,
as sabas, 
a pel,
o vento, 
as bragas...
Non creio que seja necessario
re-di-mir-se.
Viver exime. 


José Benlliure, A barca de Caronte ou Estigia.