É impossível passar um dia sem escutar algo sobre desenvolvimento sustentável. Essa expressão repercute incessantemente nos meios de comunicação, mas sem levar a um questionamento mais filosófico e profundo sobre a questão que saia do imediatismo do aquecimento global.
O idéia de desenvolvimento sustentável surgiu da necessidade de conciliar desenvolvimento econômico com redução do impacto ambiental da produção. Segundo a WWF, "A definição mais aceita para desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro."
Seguindo essa perspectiva, o mundo têm redirecionado olhares para as questões ambientais, não com a mesma atenção que se volta para o desenvolvimento e o progresso da civilização.
Não pretendo repetir o que já vem sendo falado sobre o aquecimento global ou o esgotamento dos recursos não renováveis, pois no meu entendimento já se trata de uma 'morte anunciada'.
Seria uma grande desperdício alimentar um otimismo sobre a relação desenvolvimento-meio ambiente, já que o primeiro se trata do coração do argumento capitalista, e o último no mesmo contexto que o primeiro, expressa a esperança de que o cego caminhe sobre a corda bamba.
A pergunta que falta no interior das discussões revela a ambigüidade maior do termo em questão: Qual desenvolvimento é sustentável?
A partir dela podemos levantar uma série de outras perguntas sobre a civilização e seu projeto de progresso, a partir de nós mesmos, já que somos os conquistadores do mundo e os impositores da cultura mais predatória de todos os seres.
Questionar minimamente a nossa posição no mundo (em que nossa civilização se postou no centro dele) significa subverter a ordem o processo de expansão, e mais ainda, questionar se desenvolvimento e sustentabilidade são termos conciliáveis de verdade.
Nossa idéia de desenvolvimento é pensada juntamente com a nossa idéia de progresso, e essa idéia, por sua vez, é apropriada pelo capitalismo e mesclada com o sentido da palavra produção. O progresso da civilização dependeria, então, da produção.
Se pensarmos no desenvolvimento sustentável de acordo com a WWF, por exemplo, deveríamos parar de produzir para não prejudicar as gerações futuras. E parar de produzir implicaria em parar de consumir e de utilizar os produtos deste progresso. Se fala em redução da emissão de carbono ao mesmo tempo em que comemora-se o aumento de produção de automóveis. O efeito colateral torna-se mais perceptível no trânsito das grandes capitais que já estão prestes a estourar de tão infladas.
Na minha opinião, cética e nem um pouco otimista, não existe desenvolvimento sustentável para cultura do consumo em que todos nós estamos submersos. O progresso da civilização é o desmantelamento de nossa própria condição de vida no planeta, e nesse sentido, progresso não pode ser confundido com evolução, já que o primeiro termo é teleológico: pressupõe início e fim estabelecidos. E o segundo não é previsível e não pressupõe uma ordem estabelecida. A partir de então fica fácil presumir o fim que o progresso baseado na produção pode nos levar. E mais fácil ainda perceber o quanto nosso desenvolvimento é insustentável.
* Por Carlos Alberto Oliveira
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